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Maria vai com todos

Estórias. Histórias. Pessoas. Sítios. Viagens.

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Viajar sozinho?

08.07.15

Cada vez são mais as pessoas que vão viajar por esse mundo fora sozinhas! Porém, viajar sozinho ainda é um bicho de sete cabeças na cabeça de muita gente! Vamos?

 

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Istambul, Turquia 

 

Ir ou não ir?

Sempre ir! A minha primeira viagem sozinha foi à Polónia. Era suposto encontrar-me com amigos, mas no último momento, não puderam ir. Depois, foi Marraquexe, porque uma amiga teve problemas com o passaporte. Mais tarde, viajei pela Tailândia e por Laos sozinha. Se nas primeiras foi por obra do acaso, a última não! Estava eu no drama vou-não-vou!-Ai-Buda-que-vou-sozinha, quando um amigo que já lá tinha estado me disse para não ser tonta e ir! E tinha razão! Ir é sempre a melhor opção!

 

 

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 Paris, França

 

Estar sozinho não é para ti?
OK, eu compreendo essa parte. Compreendo que partilhar e ter com quem falar é bom, mas a verdade é que um viajante nunca está sozinho, seja metafórica ou literalmente. Aproveita a viagem não só para conhecer outras pessoas, mas sobretudo para te conheceres melhor. É tão raro estarmos sozinhos nos dias de hoje, que nem que seja por isso, uma viagem é sempre estimulante.

 

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 Marraquexe, Marrocos

 

Como assim, vou sozinho e conheço mais gente?!
Não é frase feita, é facto! É também facto, que quando estamos acompanhados, temos tendência a fechar-nos um pouco mais. Também quem está de fora se sente menos cómodo para meter conversa, conversar ou convidar.
Claro que também depende do país - no Japão, por exemplo, não senti que fosse muito fácil socializar, mas mesmo assim aconteceu! Por vezes, até os viajantes mais solitários, têm alguma dificuldade em estar sozinhos.
E lembra-te: também tu podes meter conversa, conversar ou convidar! O não está sempre garantido e depois disso, o céu é o limite!

 

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 Bangkok, Tailândia

 

E se EU não conheço ninguém? Se comigo é diferente? E se ninguém gosta de mim? E se...!
Conheces, vais ver que sim! São cada vez mais os hostels que promovem actividades com outros viajantes. E opções de hospedagem como o AirBnb ou CoachSurfing asseguram amigos ou uma cara conhecida na hora.

 

 

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 Índia

 

Para onde ir?
O mais importante é escolher um destino onde TU TE SINTAS SEGURO! A segurança é relativa e para que nos aconteça algo só é preciso estarmos vivos, não é assim? Lembro-me que, por causa dos meus amigos Peruanos, fui para o Peru cheia de cautelas e nada aconteceu! Quando fui para a Índia, o tema das violações a mulheres (inclusive estrangeiras) era o tema do momento e mesmo ali, sempre me senti segura. O mesmo no Irão! A verdade, é que a única vez que foi assaltada, foi em Madrid!
Concordo que é importante ir-se preparado e consoante o país tomar precauções, mas mais importante é estar confiante no país que se escolhe e isso, mais do que rankings de segurança e estatísticas policiais, é uma escolha que cabe a cada um! Caso contrário, os medos e os preconceitos vão ser sempre uma barreira.

 

 

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 Budapeste, Hungria

 

Importante: estar sozinho é bom!
Essa pressão da companhia, é muitas vezes fruto da cabecinha de cada um! Ou daquilo que achamos que os outros esperam! Alguém que viaja sozinho, janta sozinho ou está na praia sozinho, não tem que ser um anti-social ou um infeliz, ok? E aprende: estar sozinho é bom!
Recordo-me que com uma amiga minha em Paris, havia coisas que fazíamos separadas, simplesmente porque tínhamos interesses diferentes - e sim, continuamos amigas e eu gosto mesmo muito dela!

 

 

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 Shiraz, Irão

 

E se me acontecesse alguma coisa?
Pois, pode acontecer e nada melhor do que ter um seguro de viagens - há-os a vários preços. Mas também ir relaxado com o tema, há sempre algum hospital e em todos os países, as pessoas ficam doentes e se curam. Contigo será igual! Umas aspirinas, um Fenistil e um Betadine são sempre bons amigos  - isso e verificar antes os cuidados a ter em cada país (vacinas, comprimidos para a malária, repelente, protector solar, etc.).

 

 

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 Perto de Luang Prabang, Laos 

 

 

Sozinho não gasto mais dinheiro?

Bem, isso é relativo! Afinal, se vais com um(a) namorado(a) também divides as despesas, assim como com amigos, não é? E, acredita, um quarto para dez pessoas sai mais barato do que um de duas pessoas. E tal como tu, há mais gente a viajar e podem sempre partilhar gastos de transporte ou até quartos. Aqui ficam umas dicas para poupares dinheiro enquanto viajas.

 

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 Cracóvia, Polónia

 

 

O meu inglês não é muito bom
Bem, tens aqui uma motivação para o melhorar! O inglês ajuda sempre, se bem que a mímica e os gestos são o melhor meio de comunicação em muitos sítios. Viajar é também uma forma de aprender idiomas, afinal, nada como ter que falar, para aprender, right?

 

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 Tóquio, Japão

 

Eu sou mulher, não é pior?
Não, nada! Primeiro, exactamente por seres mulher, que és tão capaz como qualquer homem e que ninguém te convença do contrário! E verdade seja dita, muitas vezes somos um pouco beneficiadas pelo machismo. Segue a lógica: como somos mulheres, somos mais tontas/frágeis, logo necessitamos de ajuda! Muitas vezes, o machismo expressa-se em forma de paternalismo! E pensa, só o facto de estares ali, sozinha e a viajar, já estás a mudar mentalidades! Go girl!

E sim, a vida nem sempre é boa ou fácil para uma mulher que viaja (usar lenços, evitar decotes, homens que nos passam à frente, olhares indiscretos, etc.), mas isso também nos permite conhecer mais sobre o universo feminino e respeitar (ainda mais) as mulheres por esse mundo fora! Acredita, uma mulher tem muitas vezes acesso a coisas que um homem não possui, nem que seja pela cumplicidade feminina! Senti muito isso no Irão, por exemplo.

 

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 Madrid, Espanha

 

Liberdade! Autonomia!
Sim, podes ir onde quiseres, quando quiseres! Não precisas de fazer fretes, nem esperar por ninguém! Recordo-me em Chiang Mai (Tailândia) estar à espera de umas miúdas inglesas que tinha conhecido nessa tarde, que se estavam a arranjar! Demorei meia hora para cair em mim e pensar: "Deixa-me ir mas é à minha vida!"

 

 

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 Algures no Camboja

 

O que é eu ganho em viajar sozinho?
Hora do clichés E se é cliché ,é porque tem fundo de verdade. É inevitável que não acabes a viagem com um grande sentido de confiança e de realização! Mas mais importante: é também uma viagem de auto-conhecimento, não só porque passamos mais tempo connosco e nos conhecemos melhor, mas porque diariamente nos colocamos à prova e vamos testando limites!

 

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 Praia Jumala, na Letónia

 

E sabes qual é a melhor parte?
Depois da primeira, na próxima viagem estas dúvidas desaparecem. E podes passar directamente à fase de organizar a tua viagem. Só custa começar!

Ilze vive em Riga

28.07.14
Riga, Letónia


Como sempre, depois das aulas passou nas Rigas Galerija.
Gostava de passear por aqueles corredores. Experimentava vestidos. Cobiçava sapatos. Acrescentava malas à lista de desejos. Recolhia amostras de perfumes. E por duas vezes aventurou-se a levar dois cremes sem pagar.
Por vezes, ia com as amigas. Falavam dos rapazes. Sobretudo dos estrangeiros que chegavam à universidade. Eram bonitos, educados e tinham dinheiro.
Juntas, elas falavam dos amores, das casas nos novos países onde viveriam e das viagens que fariam com eles. Todas sonhavam com grandes casas, idas ao spa, férias em praias paradisíacas e filhos de nome Thomas ou Marie Claire.

Depois, Ilze passava no Rimi, onde fazia as suas compras. Naquele dia levou uma salada de maionese, um chocolate Laima e dois vernizes em promoção.

Ilze tem 22 anos e apesar de russa no passaporte, ela nasceu em Riga, na Letónia.
Quando o país conquistou a independência em 1991, ela tinha 5 anos e lembra-se que os desenhos animados deixaram de ser em russo e de deixar a casa com jardim, para viver numa casa a cheirar a mofo, junto ao mercado das pulgas. Passou a dividir a cama com a avó, que morreu dois anos depois. A avó de Ilze chorou todas as noites até à noite da sua morte. Todas.

Em sua casa em família eram como estranhos. Habituados aos silêncios, os olhos já não se cruzavam. A mãe outrora de pele branca e mãos suaves de pianista, engordara e vendia roupa em segunda-mão para as matronas letãs e russas. O pai bebia até se esquecer do presente, vivendo num passado que Ilze nunca conheceu.

Todas as noites, Ilze saía. Bem maquilhada - mito bem maquilhada. E de saltos altos. Mesmo no Inverno, nunca saía sem os saltos altos. Os que levava hoje já estavam um pouco gastos, mas nada que um marcador negro não resolvesse.

Assim que chegada ao bar, sentava-se e pedia um Martini Branco. Minutos depois e alguns olhares trocados e ela já estava acompanhada.
- Hi! Do you speak english? - perguntou-lhe o rapaz de sardas.
Não era bonito, Ilze sabia-o, mas bastou uma mirada rápida para os sapatos do home e Ilze soube logo que ele tinha potencial.
- Yes, I do - respondeu, enquanto sorria, um sorriso que nunca partilhava com ninguém mais, enquanto que com a mão colocava o cabelo para trás do ombro.
- My name is Tony. And you? - perguntou o jovem, chegando-se mais perto de Ilze.
- "Tony" - disse ela. E Ilze pensou também no Anthony em Abril e no Pierre em Dezembro passado, mas desta vez ia ser diferente.
Ela sabia que ia. Tinha que ser.