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Maria vai com todos

Estórias. Histórias. Pessoas. Sítios. Viagens.

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Rescaldo do Dia da Mulher - e como podemos melhorar

10.03.21

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O Dia Internacional da Mulher já se tornou aquele conjunto de clichés, onde desde as flores às reportagens de “elas é que trabalham mais em casa” ou “há cada vez mais mulheres em lugares de topo”, nada falta.

Neste dia, homens celebram mulheres (“elas que dão equilíbrio ao mundo”) e mulheres celebram mulheres (“irmãs e guerreiras”). Mas à parte disso, fica a questão: que estamos realmente a fazer para um mundo mais igualitário?

Sim, porque o caminho da igualdade deve ser feito diariamente e nas pequenas coisas do dia a dia.

 

Aqui ficam algumas casinhas que todos podemos começar a fazer, tipo, hoje

 

Com as crianças

Vamos lá parar de rosa para meninas e azul para meninos, assim como com as Barbies versus carros. Há roupas para crianças e brinquedos para brincar, o resto é treta.

Igualmente importante é parar com comentários do tipo “ela é uma maria-rapaz”, só porque a miúda anda de bicicleta e sobe às arvores. Também seria bom terminar com a ideia de que os homens não choram e que atributos como sensibilidade são coisas femininas e, pior ainda, fraquezas.

 

E já que de pequenino é que se começa, então que meninos e meninas comecem desde logo a arrumar o quarto, fazer a cama, levantar o prato da mesa, etc. Saber cuidar de si e da higiene e limpeza da casa, assim como cozinhar e outras tarefas domésticas devia ser obrigatório para a sobrevivência de qualquer adulto e não um atributo que faz de uma mulher mais dotada, aka material para casa.

 

Em casa

É muito giro ver homens a dar flores, mas que assim que chegam a casa se sentam em frente ao sofá, levantando-se para ir jantar e dar um beijinho de boa noite no filho e pouco mais. Apregoar a igualdade em casa - ou nas redes sociais - de nada serve, se as crianças não “a veem” em pratica em casa. Educar é isto: dar o exemplo.

Isto é também válido para (algumas) mulheres que continuam a achar que têm mais direito aos filhos do que eles - porque, já se sabe, os homens coitadinhos não sabem e são incapazes. Uns tolinhos. A sério? Foi por essa classe de pessoa que se apaixonaram e, mais ainda, escolheram para pai do vosso filho?!

 

No trabalho

Sabemos que nas empresas há poucos lugares de poder atribuídos a mulheres. Isso faz com que a empresa e a sua estrutura sejam o inimigo e não, as outras colegas mulheres. É essencial parar de ver as colegas como a concorrência.

Igualmente importante é pararmos de ser engolidas pelos homens. sim, isso acontece. Porque já se sabe, eles são ambiciosos e determinados; enquanto nós somos cabras calculistas.

 

Entre mulheres

Sororidade precisa-se! Nesse sentido, seja no trabalho, em casa, com as amigas ou com a senhora da padaria, seja amável com as outras mulheres. Não as julgue, nem as veja como rivais - não foi ela que roubou o seu marido, ele é que a traiu e por aí fora.

Da mesma forma que não deve julgar, também é importante que empedre outras mulheres: elogie-as e, mais importante, (quando merecem) dê-lhes oportunidades.

 

Seja homem ou mulher, a sua filha, a sua neta, a sua amiga, a sua colega agradecem - e eu também!

Mulheres que escolhem não ter filhos

08.05.19

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Um dos posts mais lidos neste blog (e comentados) foi o Alguém por aí já se arrependeu de ter filhos?, sobre mulheres que se fosse hoje, teriam optado por não ter parido. Mães com filhos saudáveis e com boas vidas, mas a quem a maternidade não preencheu, nem se revelou a maravilha que muitos falam.

Ora, vi hoje no Facebook do Público um post sobre este tema, onde a pergunta era: "Sou menos mulher por não querer ter filhos?"

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E pessoas amigas, deixem-me que vos diga: que maravilha de comentários! Que delícia! É certo que o Facebook parece atrair a parvoíce e replicá-la, mas há comentário verdadeiramente brilhantes sobre o tema. Deixo-vos alguns:

 

"Sim. O papel de uma mulher está na sua própria biologia, basta olhar."

 

"tenho 3 e adoro!!! quem não tem não tem ideia do "sabor " de os ter !!!! enche-me a alma!!! completa-me como ser humano!! etc etc etc etc etc etc"

 

"E depois envelhece sozinha , depressiva, num apartamento cheio de gatos mas com um copo de vinho claro. Conversa de merda"

 

Infelizmente para muitos, a ideia de que ser mulher se define pela maternidade continua forte. Ainda mais com todos a acharem que devem e podem opinar sobre este tipo de escolha. Uma mulher que não tenha filhos, continua a ser exactamente isso: uma mulher.

 

 

10 Coisas que um homem pode fazer pelas Mulheres

08.03.19

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1. Questionar-se

Desconstruir ideias é o primeiro passo para entender que vivemos num  mundo machista. Aceitar que ocupa uma vida de privilégio. Claro que o indivíduo, pode ter uma vida de caca e ser infeliz, contudo isso não faz do seu genero desafortunado ou sofrido. Logo, desconstruir é o primeiro passo.

 

2. Falar com elas

Para isso, o primeiro passo é falar com elas. Logo aí, vão descobrir histórias de mulheres que são questionadas se vão ou não ter filhos numa entrevista de trabalho; assim como de amigas que já fingiram estar ao telemóvel ou atravessaram a rua, porque havia um grupo de homens. Vão também aprender histórias de irmãs que limpavam a casa, enquanto os irmãos jogavam futebol. Ou de colegas, cujos maridos não pagam a pensão de alimentos.

 

3. Ir mais longe

Se ser mulher é fofa, ao nosso lado é bem pior no Gana, na Árábia Saudita ou na Índia. Há mulheres mutiladas, outras que casam aos 11 anos e outras que jamais irão na escola. A razão? Ser mulher.

 

4. Parar de se desculpar e evitar a defensiva

Obviamente que há homens decentes. Nós mulheres sabemos disso. Logo, não faz falta nem que defende atitudes, nem que se desculpe por todos os homens. Comece por si.

 

5. Rever o discurso

Todos os dias reproduzimos discursos machistas e micromachistas, por vezes até sem nos darmos conta - "isso é para meninas", "homem não chora", etc. Obviamente que são apenas palavras, contudo as palavras têm força. Ser consciente disso e ir, pouco a pouco mudando o discurso é meio caminho andando para mudar também acções.

 

6. Entender que o feminismo não é moda e "fez coisas"

Que coisas? Possibilitou às mulheres vestir calças, ir votar e até trabalhar. Graças ao feminismo, não preciso da autorização de um homem para viajar!

 

7. Entender que o feminismo é também bom para ele

Quando se fala de feminismo, fala-se de igualdade. Ninguém, isto é nenhuma mulher, está a pedir mais do que um homem. Só quer o mesmo: oportunidades e também salários, direitos, etc. Os homens também ganham com o feminismo. Por exemplo:

  • Numa sociedade feminista, após um divórcio não é óbvio que é a mãe que tem de ficar com os filhos
  • Numa sociedade feminista, ser homem e ser vítima de abuso ou violência não é piada, nem motivo para gozo

 

8. Falar com outros homens

É importante que haja gajos que quando um grupo de amigos começa a assobiar a uma moça, saiba ser o homem que para com aquilo. Ou o amigo que questiona o outro quando deixa de ir buscar o filho para ir à bola.

 

9. Educar os filhos

E aqui não basta dizer, há que fazer. Não se trata de "ajudar em casa", mas sim: de COOPERAR. Uma criança que vê a mãe a cozinhar e o pai a limpar a louça, consegue perfeitamente assimilar o sentido de igualdade e de partilha. Acções valem mais do que mil actos.

 

10. Usar o seu privilégio em favor delas

E isto significa coisas tão simples como um "dar a palavra a" a actos maiores. Contudo, vamos começar pelos pequeninos, ok?

 

E mulheres: estes dez conselhos aplicam-se também a nós. 

De uma vez por todas: Não há racismo contra brancos

23.01.19

racismo.jpg

 

RACISMO

1. Teoria que defende a superioridade de um grupo sobre outrosbaseada num conceito de raçapreconizandoparticularmentea separação destes dentro de um país (segregação racialou mesmo visando o extermínio de uma minoria.


in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
 
Vamos lá ver se entendemos isto: não há racismo contra brancos, ok?
Claro que há negros que não gostam de amarelos e verdes que não gostam de gente às riscas. Há até os que ofendem, mas injuriar e ofender não é igual a racismo.
É preciso entender que o racismo está profundamente ligado à sociedade e às estruturas de poder que a sustentam. Da escravatura, ao colonialismo à marginalização actual, é um facto que na nossa sociedade os negros têm menos oportunidades. Quem é negro e pobre tem maior dificuldade para romper o ciclo da pobreza. Também tem menos acesso à educação ou oportunidades profissionais, assim como a melhores salários.
Em Portugal, a maioria dos pobres são negros. As mulheres negras ganham menos e por aí fora. Ou seja, os números comprovam isto..
 
Ou seja: mesmo que um negro insulte um branco com um "és um copinho de leite do caralho" ou um  "branco de merda", esse branco, na sociedade em que vive, não terá menos privilégios, nem verá o seu poder diminuído. Essa ofensa, não lhe vai baixar o salário, por exemplo. 
É que quando falamos de racismo, temos de falar também disto: de privilégios. Coisas e aspectos da nossa vida para as quais nós nada contribuímos, mas que nos dão vantagem. Ser branco é uma delas. Tal como entre ser homem branco ou ser mulher branca, claramente, o privilegiado na nossa sociedade é o homem.
 
Claro que há negros idiotas (como os há em todas as raças), assim como há os que são ricos e presidentes (também os há em versão de outras cores), assim como os que não gostam de brancos (nem de gays ou de fadas). Contudo, quando se discute o racismo e o que é o racismo, a questão não é essa. Falamos de poder e da forma como a sociedade está organizada. 
 

Frases que definem relações abusivas

16.01.19

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Apanhei este post no Facebook, na página Feminismo sem demagogia, onde pedia aos seguidores que citassem uma frase que que definisse uma relação abusiva. Aqui ficam algumas:

 

"Se a gente se separar, eu conseguirei alguém melhor que você e você, acho muito difícil que consiga alguém parecido comigo"

"A culpa é sua"

"Eu te dei a vida, posso tirar"

"Amor, você ficou linda com essa saia, mas eu prefiro quevocê vá de calça, pode esfriar."

"Você pode encontrar qualquer um por aí, mas você nunca vai encontrar alguém tão bom pra você e que te ame tanto quanto eu, pode ter certeza.” 

'Eu gosto de te ver chorar durante a madrugada, isso prova o quanto tu me ama''

"Esse seu jeito de rir de tudo parece que tá dando em cima de todo mundo."

"Eu transo com outras mas não tem sentimento, então não é traição. E você que namorou outra pessoa quando terminei com você? Deu quantas vezes pra ele?"

"Eu não queria te bater, você que me tirou do sério."

"Eu te amo tanto. Você tem que me perdoar." 

"Mulher minha não faz isso"

“Pra que amigas? Elas são todas falsas, você só precisa de mim”

 

Eu não quero ser "a mulher zangada"

21.11.18

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Recentemente, tive um problema no trabalho. E eu sei que tinha e tenho razão. No final do dia, para quem manda, isso pouco ou nada importou e a decisão deles prevaleceu.

Ainda assim, achei que seria bom e correcto, escrever um email sobre isso. Relatando toda a situação e apontando o que, a meu ver, não correu bem.

Escrevi o email muuuita cuidadosamente. Pedi segundas opiniões. Mudei aqui, decorei acolá. 

A minha preocupação era não parecer a histérica, a mulher zangada. E porquê? Porque queria ser levada a sério - das oito pessoas a quem enviei o meu email, apenas duas eram mulheres. Se fosse um homem, numa situação igual, muito possivelmente, ele seria visto como determinado. Um trabalhador que vai direto ao ponto. Todavia, como mulher, o meu medo é logo ser vista como a histérica. A pessoa que não sabe acartar decisões, só porque não vão ao encontro do que ela quer/acredita/espera. 

Vamos fazer de conta de que não foi com o Cristiano Ronaldo?

08.10.18

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Mais do que o caso em si, os comentários que vou lendo e ouvindo à alegada violação de Cristiano Ronaldo é o que mais me te consumido os nervos. Será que alguém leu a reportagem do Der Spiegel? Será que se não fosse Cristiano Ronaldo e se fosse o Zé Tó ou Trump, que os comentários seriam os mesmos? Cristiano Ronaldo é dos nossos, talvez o melhor dos nossos e parece que em muitos dos seus defensores há uma dona Dolores em potência! Não importa a idade ou genero, nem classe social ou instrução. As marcas do machismo estão aí!

 

Vamos começar pela parte em que o Der Spiegel expõe, e de uma forma bastante sustentada, recorrendo a provas e a indícios fortes, o que aconteceu em 2010. 

Cristiano Ronaldo e uma moça envolvem-se e a coisa termina muito mal, com ele (sempre alegadamente) a cometer uma violação anal. Sabemos que tudo isto é verdade, porque ela fez queixa à polícia e há indícios médicos que o provam. E há aqui que entender umas quantas coisas, válidas para este caso e para outro qualquer.

Mesmo que ela seja a mais puta das putas, a mais badalhoca das más pessoas e megeras oportunistas ressabiadas, nada, NADA justifica uma violação. Nem a torna impune.

"Ai e tal ela foi com ele, sabia ao que ia!" Oi? Sabia? Vamos imaginar que ela é a rainha das prostitutas badalhocas ou o amor da vida toda. É válido, neste e noutro caso, que a meia da penetração ela/ele diga não. Seja porque mudou de ideias, seja porque está a doer ou porque tem a panela ao lume. Se depois disso o o outro (ou outra) continua e força, significa violação. Abuso. E isso é crime. Um crime horrível.

 

E é aqui que o caso de CR sai fragilizado, pois os documentos apresentados pelo Der Spiegel demonstram que ele terá dito que ela disse não e para parar.

 

Quanto ao acordo, primeiro há que entender que os acordos extrajudiciais são bastante comuns nos EUA. A ideia é permitir que o nome das vítimas seja mantido em segredo e evitar, assim, o estigma. 

Além disso, como as leis para crimes sexuais ainda deixam muito a desejar, muitos advogados de defesa optam por este caminho como forma de assegurar alguma justiça - mesmo que seja apenas financeira. Sim, financeira. Receber dinheiro. Pasta. Cacau. Não sei se andam distraídos, mas em muitos crimes, também em Portugal, é comum existir a compensação monetária. Seja pelos danos feitos ao carro, seja quando morre um filhos por negligência médica.

E juntem a isso, o poupar a vítima a uma tremenda exposição e a um julgamento sem fim. Imaginem-se, só por três segundos, ser violados e depois sentados em tribunal a contar a para todos a história que tanto querem esquecer. Pior ainda, imaginem que o vosso abusador é um homem que ultrapassa o conhecido, é idolatrado. Acham que tinham coragem de passar por tudo isso? De dizer quem ele é?

 

O Der Spiegel refere esta parte, mostrando que durante todo o processo a vítima foi sempre aconselhada a não avançar, por ser ele quem era. Também por isso, ela nunca quis dar o nome do agressor, nem quando fez a primeira queixa - razão pela qual na altura a polícia não pode dar seguimento à investigação. E esta parte não é um detalhe, pois os próprios advogados de Cristiano Ronaldo deixaram bem claro no acordo, que nem ao terapeuta, ela poderia indicar quem era o agressor. E ela não falou.

 

O caso veio agora à tona com a investigação do Der Spiegel, que já no ano passado fez desta história notícia, mas claro ninguém acreditou. Ainda mais, porque não havia vítima. Não havia um nome - sim, ela recusou-se a falar.

 

  • "Porquê falar agora?"

Eu acredito que há várias razões. A primeira foi ver que o Der Spiegel não ia desistir facilmente - inclusive, apareceu uma jornalista à porta de casa dela. Depois, porque (por fim!) esta mulher obteve ajuda legal competente, que tem revelado as várias falhas do acordo feito em 2010, inclusive o desprezo que a defesa nutriu por ela, enquanto vítima. E também porque, acredito eu, sente uma necessidade de contar a sua história, fazer ouvir a sua voz. O ambiente é também favorável, afinal o #metoo veio dar voz a muitas vítimas, homens e mulheres, de abuso que anos depois, conseguem agora libertar-se e dar os seus testemunhos.

E se estão atentos, ela deu uma entrevista e desapareceu. 

 

Novamente, não me compete a mim julgar, nem a ninguém, mas pensem. O que tenho lido e ouvido, o preconceito e o machismo, dão medo. Muito medo! E volto à questão acima, será que se não fosse o protagonista da história Cristiano Ronaldo, seriam estas as reacções?