Os fantasmas da Guerra Civil espanhola
Franco foi um ditador espanhol.
Não conheço ninguém que discorde desta frase. Nem mesmo em Espanha, onde ainda muitos que o apoiam e o tema está muuuito mal resolvido. O que é estranho, é que em Espanha ser Hitler e ser ditador ou ser Mussolini e ser ditador é uma coisa má. Todavia, em Espanha, ser Franco e ser ditador nem sempre é uma coisa má.
Salazar caiu da cadeira e passou os últimos anos a brincar aos chefes de estado, quando não mandava nada de nada.
Hitler matou-se e ainda hoje a Alemanha vive e estuda a maior vergonha da sua História. É preciso recordar para não repetir.
Mussolini acabou com a cabeça pontapeada pelas ruas.
E, claro, todos os regimes de uma forma ou de outra, terminaram. Novos nomes e caras, novas ideias. A liberdade, a opção de escolha, a democracia. Menos em Espanha. Em Espanha, houve uma transição - e para uma monarquia.
Franco morreu e foi enterrado com honras de Estado. Foi sepultado no Valle de los Caidos, a poucos km de Madrid. O monumento foi erguido a mando de Franco em homenagem aos nacionalistas mortos na Guerra Civil Espanhola - nojinho. Se os nacionalistas foram aqui enterrados e homenageados, muitos outros morreram durante sua construção. Falo dos presos do lado republicano, que foram obrigados a trabalhar e a erguer a coisa. Ainda hoje este local é um ponto de encontro de muitos fascistas e nacionalistas espanhóis - muito nojinho.
Recentemente, o governo espanhol veio anunciar que quer transladar o corpo de Franco. Diz ele que “É urgente, porque estamos atrasados. Um ditador não pode ter um túmulo do Estado numa democracia consolidada”. É certo. È certo também que a medida peca por tardia. Imaginam o Salsazar no Panteão?! Ou Mussolini no Pantheon de Roma, ao lado de Rafael?
Para que tenham uma ideia, se trabalham em Espanha, parte dos impostos vai para a Fundação Franco, que usa esse dinheiro para
Também tardia foi a decisão de retirar os nomes de muitos generais franquistas das ruas de Madrid. Muito aos poucos, Espanha começa a limpar as marcas do seu passado.
Todavia, o primeiro-ministro Pedro Sánchez quer fazer mais. Quer criar uma espécie de Comissão da Verdade, para esclarecer vários pontos da Guerra Civil, investigar os (muitos) casos de pessoas desaparecidas e até rever as sentenças dos tribunais. Durante mais de 40 anos, outros governos tentaram o mesmo, mas em Espanha, esse tipo de medidas sempre foi contestado e até proibido e até visto por ilegal. Durante décadas, a direita espanhola defendeu que não se devia mexer no passado. Há que avançar!Em Espanha, não se fala da Guerra Civil á mesa, nem mesmo quando irmãos se mataram entre si. É um não-assunto, onde cada um tem a sua história e versão. Inclusive, na hora de aprender a história da História na escola. Cada região conta a sua História. Mas que país pode ter futuro, sem compreender o passado?!