O amor e uma cabana
Para ele, não havia nada mais fácil do que ser feliz! É melhor retirar o ponto de exclamação, pois, para ele, não havia nada mais fácil do que ser feliz.
Anos antes de nos conhecermos, foi de férias com a namorada, para o mesmo local no sul de Camboja. O local para onde todos vão. Os mesmos hotéis. O mesmo sol. As mesmas pessoas. O mesmo mar. A mesma comida. Não podia dizer que não era agradável. Era.
Todavia e talvez inspirado pela ousadia dos apaixonados, sem saber como, foi dar a um lugar deserto. Uma pequena baía, com casas de pescadores, com estrada (se é que se podia chamar estrada àquilo!), a quatro metros da praia.
Como para ele, ser feliz era fácil, decidiu ali que o "amor e uma cabana eram suficientes". E eram. E foram. E são.
Compraram uma velha casa. Restauraram. Notava-se que em cada tábua pregada havia amor. Uns quartos para receber hóspedes. Um bar. E acrescentaram uma cozinha. Umas espreguiçadeiras e já estava. Fácil. Os primeiros hospedes chegaram e sem serem precisas campanhas publicitarias, placas com setas ou fazer acordos com agencias, vários hospedes iam chegando todos os dias.
Quando eu lá cheguei, ela já tinha ido. Já ele, ele recusava-se a sair dali e a deixar de viver a felicidade. O "amor e uma cabana" existiam mesmo e ele tinha tudo para ser feliz. Um outro amor chegou: a irmã e a respectiva família. Juntos geriam o paraíso, pois também eles se tinham mudado com a ânsia de viver o paraíso no paraíso. A irmã cozinhava e levava os hóspedes com ela para a cozinha. Quando não estava ali, espreguiçava-se na areia. O cunhado arranjava aqui e ali. Pelo meio, dava passeios pela praia com as filhas. O cão também sabia que vivia no paraíso. Nunca foi enxotado dos sofás, enquanto ressonava de barriga para o ar, nem quando os hóspedes ficavam sem sítio para se sentar. Também não foi repreendido por comer as minhas sapatilhas e eu não me importei. Ele aninhava-se na minha espreguiçadeira, enquanto eu fazia a sesta, depois dos meus mergulhos. As miúdas eram as únicas obrigadas a sair do paraíso, pois iam à escola.
Soube, mais tarde, que ele tinha um acordo com os vizinhos. Outros locais e estrangeiros que vieram atrás do "amor e uma cabana" e que conspiravam contra "aqueles" que queriam invadir o paraíso com cimento e hotéis cheios de estrelas. Todos se recusavam a vender.
Eu cheguei lá, depois de conhecer umas alemãs, no meio da floresta Tailandesa, em Pai. Elas fizeram-me ir até ao fim do Camboja. E comigo foram mais três pessoas. Como não havia quartos livres, ficamos de favor, no sótão, nuns colchões e a dormir no chão. No dia seguinte concordamos em ficar lá mais um dia. E outro. E o dia seguir e o próximo. E "só" mais um. Ainda hoje, não sei como consegui ir embora dali. Onde é que eu vou agora mergulhar à meia-noite?