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Maria vai com todos

Estórias. Histórias. Pessoas. Sítios. Viagens.

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Crianças na Alemanha

23.03.16

Ich bin ein Berliner

Uma das coisas que mais me tem fascinado aqui em Berlim é a relação que os pais têm com os filhos. As crianças aqui parecem mais livres, mais autónomas, mais capazes. Aqui é comum ver crianças de dois anos a andar em autênticas mini-bicicletas (sem pedais e sem rodinhas). Aos 6 anos (ou antes) já muitos acompanham os pais de bicicleta e vão de bicicleta sozinhos. Se apanha o metro e coincide com os horários de escola, é comum ver crianças de 0/10 anos a viajarem sozinhas ou na companhia de outros miúdos, sem a supervisão de um adulto.

Nos parques, mercados, etc. é comum ver as crianças a brincarem, sem adultos em cima delas. Os pais estão lá, obviamente, e estão de olhos, mas não estão em cima e dão-lhes espaços para brincar e respirar. Se um miúdo cai, o adulto não vai a correr. Se o puto chora, os pais não lhes dão o chocolate para a mão. Se o fedelho faz birra, não ganha colo. É muito comum ver os pais aqui a baixarem-se a falarem com os filhos, baixo e ao mesmo nível que eles.

E, por favor, não me venham com a história de que são frios, insensíveis ou sem criatividade. Há carinho, de uma forma bastante clara e demonstrada, escutam-se gargalhadas e as crianças riem. Nenhuma me parece triste, nem traumatizada. Também não sei se são mais felizes, até porque isso não se mede, mas mais do que nada, acho bonita esta ideia de deixa-los tão livres.

Mesmo eu, dou por mim por vezes a pensar "e se vem um carro?" e "se há um acidente?". Na Alemanha há um sistema e as pessoas esperam que a coisa funcione. Não é suposto os carros irem à máxima velocidade ou ciclistas saírem das ciclovias (nem carros irem na ciclovia), é com força e no hábito destas convicções, que os alemães se sentem confiantes com as crianças. Obviamente que "shit happens", mas isso está muito mais enraizado em mim cultural e socialmente, do que certamente num alemães. Se lhes dissermos isso, a resposta será "não, não acontece" e alguns poderão debitar mil estatísticas, onde a apenas um em 7823723 aconteceu. A minha tendência, enquanto portuguesa, é agarrar-me a esse um. A de um alemão não.

Em Madrid, sempre disse que queria ser uma velha madrilena e do bairro de Salamanca - e ainda quero.
Em Berlim, dou por mim a pensar, que quero ser uma mãe alemã.