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Maria vai com todos

Estórias. Histórias. Pessoas. Sítios. Viagens.

Maria vai com todos

Estórias. Histórias. Pessoas. Sítios. Viagens.

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Eu que não tenho filhos, e possivelmente vou levar umas pauladas depois de escrever este artigo, pergunto a vós, mães: estão arrependidas de ter filhos? Se voltassem atrás, teriam feito o mesmo?

Atenção, não vos estou a perguntar se gostam ou não dos vossos filhos, nem a colocar em causa o amor maternal e incondicional que sentem pelas vossas crias. Podem ser (e possivelmente são) as melhores mães e sentirem-se também arrependidas. Sim, ambas as coisas andam muitas vezes de mãos dadas.

 

Recentemente, li um artigo no The Guardiam que falava disso mesmo. Mães, boas e competentes mães, com filhos saudáveis e bons alunos na escola, que se diziam arrependidas. Muitos dos testemunhos eram de mulheres que tinham planeado a gravidez, ou seja, não eram casos de “ups”!

As razões eram várias. Umas porque sentiam que a maternidade, a verdadeira, não a das redes sociais, era demasiado dura e que tinham idealizado demais a coisa. Algumas diziam que ser mãe resultava bastante aborrecido. Outras, porque não se sentiam nem mais realizadas, nem mais felizes - pelo contrário. Ou simplesmente, porque não viviam aquela realização materna, que os outros dizem ser suposto uma mãe viver. Outras, porque se sentiam sozinhas e abandonadas, com a carreira estagnada e com opções de vida mais limitadas. Quase todas sentiam falta da vida pré-filhos e das antigas rotinas. Por mais que se fale de igualdade, acabam por ser elas a ficar em casa com os filhos e também mais condicionadas em termos financeiros.

 

Sejamos objectivos, há mais de cem anos atrás, um filho era um herdeiro, mão-de-obra. Nas famílias ricas, as mães nem amamentavam as crianças e havia uma hora marcada para pais e filhos se encontrarem. Só no século XX, com a introdução dos Direitos das Crianças e muita psicologia infantil e muito marketing, é que os cachopos passaram a ser vistos de outra forma. A transformação foi tal que hoje em dia, um filho virou o centro do universo. Os pais adaptam-se á vida das crianças e deixam de ir à exposição X, porque vão antes ao aniversário do amiguinho de 3 anos, com quem o filho anda no infantário.

Cada vez mais, parece-me, os pais vêem os filhos como uma extensão deles mesmos e não como indivíduos, com personalidade e direito à sua autonomia - veja-se a relação que a maioria dos pais têm com as redes sociais, onde todas as conquistas e desenvolvimentos da criancinha são partilhados até à exaustão. A competição entre pais é feroz, com direito a definição e tudo: os helicopter parents.

Muitas das mães do artigo não se encaixam neste perfil, sentindo-se (talvez) um falhanço por isso. Daí a frustração, daí o arrependimento. Será?

 

Continuando: não será natural que uma mãe se arrependa? E um pai? Mesmo que não seja num estado permanente, como muitas das mulheres do artigo comentam, não é normal ter momentos? Tipo quando o puto passa noites sem dormir ou a miúda faz birra no supermercado, porque quer um chocolate? Ou até mesmo quando os vossos amigos vão jantar fora e vocês não podem, porque não encontraram uma ama? Ou simplesmente, porque se acabaram as viagens, porque as fraldas são caras?

Vá, contem-me tudo.

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