Memórias de Varsóvia - parte III
Como e tomo café, numa espécie de FNAC (sim, sim, eu em viagem gosto de ir a livrarias de outros países) com uma bela vista e uns sofás confortáveis. Peço um café (queimado que dói) e aproveito para acabar de ler as últimas páginas do meu companheiro português pela Polónia. Enquanto leio sobre os últimos dias de Ricardo Reis, ouço: “És portuguesa?”.
Lá estava ele, um Erasmus com muitas saudades de ouvir e falar português. E falámos muito. Saímos dali, fomos a bares e cafezinhos. Daqueles escondidos e que os viajantes gostam, mas que não estão nem nos mapas mais cools! E cerveja. E vodka. E cerveja. Falámos muito e entre um foda-se” e um “caralho” lá estou eu atrasadíssima para apanhar o autocarro de volta para Riga. E ainda tenho que ir ao hostel buscar as minhas coisas. Um abraço, sorrisos nervosos e não houve tempo para mais. Como estará o moço? O João - acho!
Na casa da avó polaca, montou-se uma festa reggae, com muita erva pelo meio. “Stay”. “Smoke”. “Dance”. “Sing”. “Don’t go”. “Stay”. E eu a ter que dizer que não. Novo abraço cheio de impulso e de verdade. Se pudesse abraçava Varsóvia, mas como não posso, agarro-me às rastas.
E agora? Agora onde apanho o autocarro? Raios-partam o meu sentido de orientação! Ela disse que sabia inglês, que estava a aprender, até me mostrou o livro. E no final termino não na Gare que me levaria a Riga, mas sim, no local (parece-me) onde estão estacionados todos os autocarros, que terminam as suas carreiras na cidade. E o tempo a passar. O motorista manda-me sair. Não fala inglês e eu desesperada mostro-lhe o meu bilhete para ir para Riga. Ele leva as mãos à cabeça. Eu levo as mãos à cabeça. E uma mãe polaca, que entretanto entrou no autocarro, leva as mãos à cabeça – aliás, levou só uma, pois a outra segurava o seu lindo bebé de cerca de três anos. O motorista põe o autocarro em marcha e pára e fala em polaco e avança. Ele pára de novo, ela levanta-se. Ela agarra-me por um braço e enfia-me noutro autocarro. Depois, pede-me o telemóvel. Eu dou, claro que dou e ela fala muito, muito. Tento brincar com a criança, mas acho que se assusta mais do que acha piada aos meus cu-cus. Voltamos a sair do autocarro e corremos muito. Pego na criança, que chora. Aliás: berra. A mulher (louca) põe-se à frente de um autocarro que pára. É quando me apercebo estamos de novo junto do hostel, mas "que raios faço eu ali outra vez! Já foi! Perdi a camioneta!" Ela tranquiliza-me e explica-me que ligou para a estação e pediu que esperassem por mim. Como? Pois, também não sei e ainda hoje para perceber.
“Thank you soooo much” digo eu e com vontade de abraçar. Abraço o bebé, que entretanto lá se acalmou, afinal “quem os meus filhos beija, a minha boca adoça!”. Mas acrescenta que só esperarão 15 minutos. Chegamos à gare e nova corrida. Ela pede-me o bebé e enquanto corremos as duas, aponta-me em que direcção devo correr. Volto a agradecer e continuo a correr. O motorista estava à minha espera, assim como todo o autocarro e fez-me entrar. Quando por fim a mãe e o seu lindo bebé alcançaram o local, já estava a camioneta a arrancar. Eu acenar feliz que nem uma louca, a mandar beijinhos... e assim estivemos, até nos perdermos de vista, a dizer adeus. Eu, a mãe, o lindo bebé e Varsóvia.