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Maria vai com todos

Estórias. Histórias. Pessoas. Sítios. Viagens.

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Eu e a catequese

28.02.19

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Acho que fui para a catequese quando entrei na escola primária. A minha mãe queria, porque queria e queria. Mais tarde, como entrei nos escuteiros, a catequese passou a ser obrigatória e lá andei eu e fiz os rituais todos, tendo saído depois do Crisma.

Recordo-me de quando era criança gostar de lá andar. Como sempre gostei de histórias, adorava a catequese. Não era tanto a espiritualidade, eram mesmo as histórias que me prendiam.

para os rituais, confesso, nunca tive muito jeito. Não era paciência, era mesmo falta de jeito. Ora senta, ora levanta, benze aqui, "é com a direita, com a esquerda chamamos o diabo", ajoelha e baixa a cabeça,...

Recordo-me de antes da Primeira Comunhão, ir a Fátima numa viagem da catequese e durante a missa, quando chegou a hora da comunhão, uma freira me perguntar se eu comungava. A senhora nem me deu tempo de responder e enfiou-me a hóstia pela goela abaixo. A minha catequista viu e deu-me uma enorme descompostura que eu não podia, que eu não era baptizada e ai-jesus que enorme pecado. Sei que fiquei tão triste com aquilo! Quando contei à minha mãe, ela riu-se e desdramatizou. Contudo, ainda hoje me lembro de me sentir mesmo triste por ter cometido um "tão grande pecado".

Lembro-me também (e tão bem) de quando me confessei pela primeira vez, antes de fazer a Primeira Comunhão. Achei mesmo que estava limpa de pecados e saí da confissão determinada a não fazer nada mais de errado e a comportar-me lindamente. Anos depois, aquando da Profissão de Fé (já na adolescência), a magia tinha desaparecido. Só conseguia pensar que quem me estava a livrar de pecados era um homem fraco de espírito, que fazia tudo o que as beatas lhe diziam e se recusava a dar a hóstia às mulheres divorciadas (juro!).

Obviamente que com a adolescência vieram as dúvidas e as perguntas. A minha catequista nunca soube lidar com elas. Dogmática, como só ela, chegava a chorar de tão ofendida a perguntas tão simples como "Jesus não teve mais irmãos?" ou "se Jesus nasceu no Médio Oriente qual a probabilidade de ele ter olhos azuis e ser louro?". Ela, outros catequistas e o padre da minha paróquia eram pessoas bem mesquinhas, cheias de solenidade e que fizeram sempre questionar que Deus não podia ser nada daquilo - tão sério, tão autoritário e tão sem resposta.

Sobre o Abducted in Plain Sigh da Netflix

15.02.19

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Pessoas, preciso de desabafar sobre o "Abducted in Plain Sigh" da Netflix.

Se ainda não viram, vão-se embora, VÃO-SE EMBORA, porque eu vou spoilar à força toda! Isto, porque eu preciso de desabafar e abrir o meu coração. Vi isto sozinha e ainda não digeri.

O "Abducted in Plain Sigh" é um documentário que está na Netflix, mas que não foi produzido pela própria. Na verdade, o nome original é "Forever B".

Conta a história de uma família, que vê a filha (Jan Broberg) de 12 anos, raptada duas vezes e que é violada e manipulada pelo vizinho/melhor amigo. 

A própria forma que levou o tal B. a convencer a miúda a estar calada sobre os abusos é de LOUCOS: uma invasão de aliens e ela, qual Virgem Maria, a ter que ter um filho com ele para salvar o mundo. Obviamente que até à concepção, haveria que copular MUITAS tentativas. Isto durou até aos 16 anos da Jan, a menina. E é completamente atroz. Só esta parte, já valeria o documentário. Até porque ele não se limitava a inventar a história. Ele dramatizava a coisa, com músicas, acessórios, etc. Além disso, ela era uma miúda de 12 anos e ele como um segundo pai e nos anos 70, como não acreditar nele?

Contudo, este é o detalhe mínimo da história.

Pelo meio, há dois raptos da mesma miúda, pelo mesmo homem. Sim, DOIS raptos!

Mas há mais: os pais deixaram o vizinho durante quatro ou seis meses (já nem sei ao certo), dormir no quarto da filha, quatro vezes por semana, porque "ai e tal, ele estava a fazer um tratamento"!

As bombas não terminam aqui. Ora o pai que admite que masturbou o tal B. Ora a mãe tem um caso tórrido com ele! Isto, depois de ele já ter raptado a miúda uma vez. Note-se que da primeira vez, ele levou-a para o México, onde CASOU com ela (recordo que ela aqui tinha 12 anos!!) e depois chegou a pedir aos pais uma autorização para casar com a miúda nos EUA. Mesmo depois disso (e anos depois), a mãe põe a filha num avião para ela o ir visitar - é aí que se dá o segundo rapto!!

O mais repugnante é a forma como a mãe falo do caso com o B, como se tivessem sido os melhores anos da vida dela. Aliás, ele convenceu-a a pedir o divórcio, sugerindo que ela ficasse com as filhas (óbvio!). Todavia, como o pai não lhe deu a guarda, ela recuou.

 

Mais tarde, ele acabou preso (mas por outros casos, não por este) e a mãe a escrever um livro. A menina é hoje uma mulher, é a actriz Jan Broberg - que fez até pequenos papéis em series como Criminal Minds. Ela parece bem resolvida, contudo como ela consegue sentar-se à mesa no Natal com os pais é para mim um mistério.

 

Obviamente que já andei pela Internet fora a ler mais sobre o caso e parece que a realizadora Skye Borgman é da opinião que a mãe estava mesmo com uma paixão assolapada (ou ainda estará) e que o envolvimento do pai, foi mais do que um trabalho manual. Enfim!!! LOUCOS!

Aliás, sem sem Jan Broberg, que claramente precisou de muuuuitos anos de terapia, a única pessoa saudável é o agente do FBI que segiu o caso e que nem ele parece entender o que aconteceu ali. LOUCOS!

Portugal que não se indigna

11.02.19

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Juro-vos: se Portugal se indignasse tanto na rua como nas redes sociais, seríamos todos habitantes de um país, tão, mas tão melhor.

Estava marcada para ontem uma manifestação no Marquês de Pombal pela violência doméstica. Andava tudo maluco porque só em Janeiro tinham morrido 9, nove, NOVE mulheres vítimas de violência doméstica. Ficou tudo a salivar, porque na semana passada o número passou a 11, onze, ONZE, sendo uma delas uma bebé de dois anos.

Ontem foi a manifestação e... que tristeza.

Tão pouca gente!

Tanto espaço por preencher.

Tão poucos a dar a cara e o corpo ao manifesto.

Cum raio! Que apatia e pouca participação é esta?

Tudo muito constrangido, muito raivoso, mas na hora de exigir a mudança: poucos. Isso reflecte-se também nas políticas governamentais. Muito "lamento", mas ideias em cima da mesa e pro-actividade zero. 

"Ela disse que isto ia acontecer"

06.02.19

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Sandra fez queixa de Pedro. A polícia avançou, o Ministério Público ignorou. Muitas ameaças (e porradas) depois, Pedro matou a sogra, a filha e depois, suicidou-se.

Em Portugal, foram assassinadas 28 mulheres, todas vítimas de violência doméstica.
Em Janeiro deste ano, morreram nove mulheres em Portugal.
Entre 2004 e 2018, em contexto de violência doméstica, foram mortas 503 mulheres.
 
E a sério que ainda andam as autoridades a assobiar para o ar e a não dar apoio quando há queixas? Tanta campanha, tanto " denuncie" e "fale" e "não tenho medo", para depois se verem sozinhas (ou sozinhos), sem apoio, desprotegidos e até descredibilizados?
Ele matou-se!
E ela como vai ficar? Sem a mãe? Sem a filha?
Mais: quem é que se vai responsabilizar por tudo isto? Ah pois, como estamos em Portugal, a resposta será certamente NINGUÉM!
 

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Crimes portugueses que podiam virar series na Netflix

06.02.19

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Depois de ver "A Rede", a reportagem da Conceição Lino, na SIC (clap clap clap - que maravilha e que murro no estômago!!), dei por mim a pensar no potencial de Portugal, no que toca a histórias  eque dariam excelentes séries de crime na Netflix. Ou, numa realidade mais à portuguesa, uma nova (e interminável) telenovela da noite. Vá, pessoas do entretenimento em Portugal, ponham as mãos nisto - eu nem cobro pela ideia.

 

Caso Casa Pia

Escandaleira ao mais alto nível, com direito ao glamour do mundo de entretenimento e tudo. Contudo, isto tinha de ser uma daquelas séries da Netflix com muitos episódios. Daquelas que a cada episódio a coisa piora e nos revolta sempre mais - tipo o "Making me a murder" (eu não passei do primeiro episódio, pois aquilo estava-me a comer os nervos!)

No primeiro episódio, começava a entrevista do ex-aluno da Casa Pia à jornalista Felícia Cabrita. Depois, no segundo, um onde "ups, há mais casos". Seguindo-se pelo terceiro, com um "ah e tal, muita boa gente já sabia disso", passando aos envolvdidos e por aí fora. Sendo que se a coisa fosse sucesso, o processo em si, mereceria também a sua própria série.

 

Maddie McCann

Um documentário da Maddie na Netflix tinha o apelo de chamar muito público internacional - afinal, quem é que nunca ouviu falar deste caso? Dava para fazer altas especulações e teorias de conspiração, envolvendo Tony Balir e até uma participação especial do Papa - não deste, mas do reformado.

Uma pena que James Gandolfini (o senhor Soprano) já faleceu, porque acho que ele daria um Gonçalo Amaral (o ex-inspector da Polícia Judiciária) incrível. 

 

Caso Marquês

O Caso Marquês mais do que um documentário, teria de ser algo ao nível serie "O Mecanismo". Tudo que era actor português acabaria por entrar, porque o que não falta são papéis masculinos para ser representados. O Lima Duarte podia também fazer uma perninha, para fazer de Lula ou de Chavez. Acho que o Joaquim d' Almeida daria um bom juíz Carlos Alexandre. Difícil seria escolher quem interpretaria o Sócrates. O Diogo Infante?

 

 

É seguro viajar para aí?

03.02.19

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Uma das perguntas mais comuns na hora de viajar é o "É seguro viajar para aí?".  "É seguro ir para Bruxelas?" ou "Londres não é perigosa?" ou "Marrocos não é perigoso para as louras", etc.

Obviamente que a segurança é uma coisa importante e que morrer, ainda mais nas férias, é desagradável e não está nos planos de ninguém. De todos os modos, isso não é algo que se possa prever. Nem mesmo os 382984 artigos que encontram online com os "destinos mais seguros para viajar" vos podem garantir que nada vai acontecer.

Sempre que ouço esse tipo de questão, quase dou por mim a revirar os olhos e a pensar no caso de Portugal. Como se em Lisboa nãou houvesse assaltos, nem assédio no Porto e por aí fora! Portugal também tem os seus problemas e no resto do mundo, o cenário é mais ou menos o mesmo: gente a tentar viver da melhor forma que pode, em paz. 

Obviamente que este meu comentário não se refere a países em guerra. Contudo, na hora de viajar, os cuidados a ter não devem ser muito diferentes daqueles que se tem "em casa": evitar andar sozinho durante a noite, afastar-se das ruas principais, etc.

Quanto ao terrorismo, a menos que alguém tenha contacto priviligiados com uma rede, como saber se vai ou não acontecer? Quando ou a que horas? Mais: quem nos garante que não ocorre em casa?

 

Infelizmente, a vida também é isto: a imprevisibilidade. E se isso é bom quando falamos de coisas boas e felizes, na hora de ter de lidar com a dor, a violência e a morte, nem muito. Contudo, se isso não nos impede de sair de casa para ir trabalhar, também não nos deveria impedir de viajar e viver a vida.