Eu e a catequese
Acho que fui para a catequese quando entrei na escola primária. A minha mãe queria, porque queria e queria. Mais tarde, como entrei nos escuteiros, a catequese passou a ser obrigatória e lá andei eu e fiz os rituais todos, tendo saído depois do Crisma.
Recordo-me de quando era criança gostar de lá andar. Como sempre gostei de histórias, adorava a catequese. Não era tanto a espiritualidade, eram mesmo as histórias que me prendiam.
Já para os rituais, confesso, nunca tive muito jeito. Não era paciência, era mesmo falta de jeito. Ora senta, ora levanta, benze aqui, "é com a direita, com a esquerda chamamos o diabo", ajoelha e baixa a cabeça,...
Recordo-me de antes da Primeira Comunhão, ir a Fátima numa viagem da catequese e durante a missa, quando chegou a hora da comunhão, uma freira me perguntar se eu comungava. A senhora nem me deu tempo de responder e enfiou-me a hóstia pela goela abaixo. A minha catequista viu e deu-me uma enorme descompostura que eu não podia, que eu não era baptizada e ai-jesus que enorme pecado. Sei que fiquei tão triste com aquilo! Quando contei à minha mãe, ela riu-se e desdramatizou. Contudo, ainda hoje me lembro de me sentir mesmo triste por ter cometido um "tão grande pecado".
Lembro-me também (e tão bem) de quando me confessei pela primeira vez, antes de fazer a Primeira Comunhão. Achei mesmo que estava limpa de pecados e saí da confissão determinada a não fazer nada mais de errado e a comportar-me lindamente. Anos depois, aquando da Profissão de Fé (já na adolescência), a magia tinha desaparecido. Só conseguia pensar que quem me estava a livrar de pecados era um homem fraco de espírito, que fazia tudo o que as beatas lhe diziam e se recusava a dar a hóstia às mulheres divorciadas (juro!).
Obviamente que com a adolescência vieram as dúvidas e as perguntas. A minha catequista nunca soube lidar com elas. Dogmática, como só ela, chegava a chorar de tão ofendida a perguntas tão simples como "Jesus não teve mais irmãos?" ou "se Jesus nasceu no Médio Oriente qual a probabilidade de ele ter olhos azuis e ser louro?". Ela, outros catequistas e o padre da minha paróquia eram pessoas bem mesquinhas, cheias de solenidade e que fizeram sempre questionar que Deus não podia ser nada daquilo - tão sério, tão autoritário e tão sem resposta.