O que veem os míopes
Uso óculos desde que tenho 3 anos. Nas minhas fotos é como se houvesse um desfilar de imagens minhas bebé e depois, tumbas, lá veem um sem fim de fotografias sempre com óculos. Sou míope, com quase oito, em cada olho.
E desculpme-me, mas usar óculos é uma merda.
É tudo muito giro quando se tem poucas dioptrias e há óculos bonitos, mas quando têm de usar lentes grossas, quando até as lentes mais caras e especiais, porque são mais magrinhas, não encaixam bem numa armação usar óculos é uma caca. E das caras.
Lembro-me de andar sempre preocupada, porque os óculos eram caros - e eu sempre caí muito. Ainda caio.
Ou de aos 13 anos, não poder participar na final de basquetebol, porque o arbitro não me deixava jogar com óculos.
Ou de anos mais tarde, levar uma nota na caderneta, escrita pela minha professora de Educação Física. Escreveu ela, que fui mal-educada e que me recusei a fazer um exercício - ela queria que eu saltasse no boxe sem os óculos por segurança e ficava frustrada, porque cada vez que chegava perto do bicho, parava - não via.
Usar óculos significava também ter que me sentar sempre à frente na escola.
Ou não usar óculos de sol.
Ainda mais o meu oftalmologista era um chato, que só aos 18 anos me deixou usar lentes - algo que lhe comecei a pedir lá para os 14! Aliás, assim que fiz 18 anos, telefonei-lhe logo a marcar consulta.
E sou tão mais feliz de lentes! Mesmo quando elas vão para trás do olho, há vento ou me ponho a chorar.
Por tudo isto, não pude deixar de sorris com este conjunto de obras de Philip Barlow, um artista sul-africano, que pinta o mundo pelos olhos de um míope.