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Maria vai com todos

Estórias. Histórias. Pessoas. Sítios. Viagens.

Maria vai com todos

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Portugal, a Europa e o mundo andam maravilhados com as startups: que maravilha! Todos tão jovens e empreendedores e motivados! Uma revolução! A Internet veio para ficar e revolucionar, este mundo sem barreiras e global. Tudo muito brainstorming, muito fazer update e upgrade e dar inputs! Mas tal como no convento, também na startups só quem está dentro, sabe o que vai dentro!

 

Todos somos managers

Quem trabalha numa startup, sabe bem que não existem secretárias ou recepcionistas! Existem, sim, Office Managers. Também não há Atendimento ao Cliente, há Hapiness Leaders. Muitos managers são pessoas que: acabaram o curso, estagiaram naquela mesma startup e que depois de dois meses como júnior, passaram logo a managers e a gerir equipas! Ou seja, experiência acima de tudo!

 

Os workaholics 

Como é tudo gente jovem e fresca, sem filhos e grandes responsabilidades, o trabalho gere a vida e vive-se para trabalhar! Alguém que trabalha até às 20h00 é dedicado! O que responde a um email ao sábado, um exemplo a seguir! O que come na secretária em 5 minutos, leva o título de trabalhador do mês! Numa startup não há tempo a perder, pois a empresa “é de todos”! “Ter paixão” é pôr a empresa em primeiro lugar, porque amigos, família e hobbies…  o que é isso mesmo?

 

Os salários das startup

Apesar de terem recebido milhões do investidor X e Y, de serem a empresa que mais cresceu e a número 1 do mercado, a startup continua a preferir estagiários ou, de uma forma geral, gente a quem possa pagar pouco, poucochinho!. Os salários são maus, péssimos e, por vezes, até roçam o humilhante! Mas não faz mal, porque a empresa faz eventos de equipa, dá fruta e até café! E se for uma empresa à séria, até providencia aulas de ioga, porque já se sabe, se alongarmos muito e inspirarmos e expirarmos, esticar o ordenado é sempre mais fácil! Namasté a isso!

 

Os (não) processos da startup

Digo não processos, porque (na maioria das vezes) são inexistentes. Compreende-se, a empresa é nova e muitas coisas ainda estão ainda a ser criadas. Tudo muito certo. Por isso, ou nos habituamos e adaptamos a um novo processo a cada dois minutos ou “adeus sanidade mental”. Mas não faz mal, porque no universo startup, isto chama-se “inovação” e “coragem para desafiar limites”! O bom profissional startupiano, acredita-se, não necessita estabilidade, nem confiança para desenvolver o trabalho. Ele que se desemerde, “pardon my french”!

 

Porque a tua opinião conta! Ou não!

Dentro deste espírito, trabalhar numa startup é quase como fazer terapia. Como te sentes? Quais são as tuas frustrações? Do que gostas? Do que não gostas? Estas feliz? Sentes-te satisfeito? Que queres aprender? Onde achas que podes melhorar? O que é que pode melhorar? Onde é que a empresa pode melhorar? Qual foi o melhor elogio? Algo te deixou triste?

Perguntar é de valor, obviamente, mas ver a empresa a possuir informação e a não agir é cansativo e desgastante! Enfim, aborrece…mata os nervos! Porque daí, a aceitar o “mau” como normal é um passinho bem pequeno - e isso, numa empresa, tal como na vida, é do pior que há!

 

Para quando? Para ontem, obviamente!

Numa stratup, todas as tarefas são para ontem. O que devia sair amanhã, afinal foi planeado para daqui a duas semanas. Ou simplesmente, abortado. Dizem que é importante saber priorizar, mas como? Como? Se numa mesma hora recebemos seis tarefas prioritárias. Aí, é fácil, dizem-nos os mestres de gestão da startup! Aí decide-se em função da hierarquia: quem manda mais, pode!

 

Mas há hierarquias no mundo maravilha da startup?

Oficialmente, não. Isto é, nos anúncios de trabalho, por exemplo, não há, o termo aqui é “flat hierarchies”. Também nas entrevistas nos dizem que "não, não senhor", pois aqui "somos todos um todo, estamos todos unidos, somos uma família" - como se eu precisasse de ter família no trabalho! No entanto, vai-se a ver e as coisas são geridas à base do “porquê? Porque eu mando”! Ou com palmadinhas nas costas, numa tradução de: “tens razão, mas não!”

 

 

 

 

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Para quem não sabe, o campo de refugiados de Calais no norte de França ardeu esta semana. Aquilo nem de “campo” deveria ser chamado! Sujo, com piolhos, doença,… Incrível pensar que a Europa dos Direitos Humanos e da Igualdade, Fraternidade e Liberdade, chamava àquilo campo de refugiados e sem pudor, “mandava” seres humanos para ali, enquanto governantes europeus, cheios de inércia e pouca boa vontade, continuam sem decidir que rumo dar a estas vidas! Vidas em suspenso e com as quais a Europa terá muitas contas a ajustar no futuro.

 

O incêndio foi provocado por refugiados, como protesto. Nem vale a pensa argumentar, pois as fotos do estado em que viviam são bem demonstrativas e, a meu ver, justificativas!

 

Se o Reino Unido se apressou a controlar fronteiras, França começou (finalmente) a transportar os mais de 5 mil refugiados que aqui "viviam", para outros centros do país. Digo “finalmente”, porque custa-me pensar que possam existir em França mais campos como o de Calais!

 

Pelo meio, ficam sempre os mais frágeis e desprotegidos, isto é: as crianças!

As autoridades francesas dizem estar tudo controlado! Organizações do terreno falaram em cem crianças a dormir na rua, abandonadas à própria sorte. Depois, falaram-se em 200! A sério que está tudo controlado? E agora a Unicef vai mas longe e acusa as autoridades em França, de rejeitar crianças, deixando-as a dormir ao frio - estamos em Outubro e no norte de França, note-se! Alguns voluntários contaram historias de crianças a ser afastadas pela policia, porque não tinham pulseira de identificação!

Se viver em Calais, já é algo bem distante daquilo que deve ser a vida de uma criança, imaginem agora o que é este abandono! Não há números certos, mas as autoridades falam em centenas de crianças refugiadas desaparecidas - onde estão elas? Fala-de de abusos, exploração infantil, tráfico de crianças, escravatura e prostituição infantil,...

Ainda esta semana, a Inditex, a empresa-mãe de marcas como a Zara, a Mango ou a Bershka, foi acusada de ter crianças a trabalhar nas suas fabricas - e não me venham cá com a história que são empresas subcontratadas e que a marca não sabia de nada! Se não sabe, que se informe correctamente e que faça por mudar!

 

Caramba! Que raiva que isto me dá!

28 Out, 2016

Ode à sexta-feira

Ave sexta-feira, cheia de graça,

O fim-de-semana está convosco

Benidta sois vós, entre os dias da semana

e benidtas sejam as 6h da tarde!

 

Santa sexta, rainha de todas as feiras

rogai por nós os trabalhadores

agora e na hora do fim da semana. Amén! 

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Quando o Afeganistão estava ocupado pela União Soviética, a capa da National Geographic com a fotografia de Steve McCurry, correu mundo! Aqueles olhos verdes e intensos tornaram-se num simbolo afegão, em 1984.

 

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Em 2002, Sharbat Gula foi novamente pelo fotografada, tinham-se passado menos de 20 anos, mas ela era outra! Mãe de três filhos, envelhecida pela vida e cansada pela vida e pelos conflitos, apesar de ter dado a cara a uma das mais icónicas capas de sempre!

Agora, ela foi presa, no Paquistão, onde procurou refúgio. Tudo porque não possui papeis, arriscando-se agora a uma pena de 7 a 14 anos de prisão e a uma multa, entre 3 a 5 mil dólares!  No Paquistão, há mais de um milhão de refugiados sem papeis, ela é só uma mais! E agora?

Graças aos senhores fofinhos da Sapo, recentemente tive de ir vasculhar alguns textos antigos para escolher um para o Destaque. Acabei por escolher o meu post sobre a minha viagem ao Irão e aproveitei para relê-lo, porque, amigos, eu sou a rainha dos typos e gralhas.

 

A viagem ao Irão foi muito importante para mim. Deu-me uma perspectiva sobre a vida das mulheres, que até aí eu nunca tinha sentido antes. E digo sentir, porque (de facto) foi a primeira vez que o senti na pele. Anos antes, fiz Erasmus na Turquia. Aí, nas grandes cidades, ver mulheres de lenço e unhas de gel e mini-saia era o prato do dia. Havia muitas na universidade e conheci umas quantos directoras e presidentes. Quando perguntava sobre “e na política onde estão elas?”, a resposta era simples: muitas mulheres optam por ser mães a tempo inteiro. Justo e no seu direito. Na altura, talvez por ser demasiado cachopa, não fazia mais perguntas. Aliás, gostava desta ideia de uma Turquia moderna e aberta. Obviamente que as coisas, e a vida, não são tão simples assim. Eu sei disso agora. Da mesma forma que o sei, que em Portugal também nem tudo é o que parece, nem na Alemanha, onde vivo agora!

 

Mesmo na altura, quando fui ao Irão, quando coloquei o lenço para tapar cabelos e pescoço, dizia para mim mesma que “aqui é assim, que há que respeitar a cultura”. O lenço caiu-me 734 mil vezes, eu andava destapada durante largos minutos e o mundo não acabou. Em oposição, eu fiquei danada de ver as mulheres a terem que usar aquela porra, só porque sim e só porque lhes mandam e só para puderem sair à rua, trabalhar, ir passear os putos e ir às compras. Caso contrário, ninguém lhes daria trabalho ou tinham a Polícia Religiosa, que não é meiga, à perna.

Ainda mais, porque no Irão é comum o uso do chador, uma espécie de tenda presa à cabeça, que cai tipo a capa do Super Homem. Só um gajo, poderia achar que aquilo podia ser roupa de mulher, porque em termos práticos, aquilo vale zero.

 

O Irão foi o primeiro país, onde me senti verdadeira secundária por ser mulher. Vamos ser honestos, todos e todas nós sabemos que há discriminação: mulheres recebem menos, ocupam menos cargos de poder, etc., etc. e tal. Mas quando algo nos acontece na pele (tipo não conseguir o trabalho X ou a promoção Y) por mais que possamos saber que há uma discriminação de género, não temos ninguém a confirmar-nos que sim, sim senhora, que é por termos uma vagina que não conseguimos algo. Isso, no Irão acontecia. Havia gente que só falava com o meu homem e não comigo ou que na hora, se recusava a apertar-me a mão, entre muitas coisas mais.

 

Apesar de já ter estado na Índia, onde os casos de femicídio são o pão nosso de cada dia, além da pobreza extrema do país ou ter vivido na Letónia, onde o abuso de mulheres está no topo da Europa (quando eu lá vivia, dizia-se que havia mais prostitutas em Riga do que em Paris), o Irão marcou-me e permitiu-me uma consciência mais aguda. Porquê? Porque lá está, o vivi na pele.

 

Quando regressei do Irão, “comi” (ainda) mais informação do que nunca sobre o país e foi assim que descobri o grupo de Facebook My Stealthy FreedomO grupo não tem qualquer afiliação política ou religiosa. Limita-se a contar histórias sobre as mulheres do Irão, desencadeando algumas reacções e acções por parte das mesmas, com o apoio de alguns homens também. “Ai, disseram que não podemos anda de bicicleta? ‘Bora lá partilhar fotos, enviadas pelas seguidoras, de mulheres iranianas a andar de bicicleta. Recentemente, mulheres partilhavam fotos sem o lenço, que eram usados pelos homens (irmãos, maridos, …) e a campanha teve inclusive destaque nos media internacionais, com o Aiatolá a falar dessas iniciativas de “subversivas e fruto das influencias sem vergonha do ocidente”!

Recentemente, a campeã do mundo de xadrez recusou-se a participar no campeonato mundial, que este ano se realiza em Teerão. A razão? Porque ela, Norte-americana, não queria cobrir-se e quem não usa lenço, não pode entrar no país.

 

Ai e tal, ela “devia respeitar a cultura!”

… tal como eu fiz quando estive no país!

Se há coisa da qual eu agora me arrependo, foi de não ter sido mais corajosa no Irão. De não ter andado mais destapada, de ter prescindido de alguma da minha roupa de todos os dias, de não ter optado por usar os lenços mais coloridos, que acabaram no fundo da mochila. Fui para o Irão com essa cegueira e ignorância, do “respeitar a cultura”, quando o chador, o lenço, o hijab, os códigos de conduta do vestuário, não foram nunca parte da cultura iraniana - basta ver fotos do Irão nos anos 80 (mais abaixo)! Sei que sem o lenço não poderia ter viajado por lá, mas hoje sinto-me um pouco envergonhada por ter usado algo que não faz parte de mim, só para ter ido lá. Obviamente, que se eu não fosse ao Irão, nada iria mudar! Afinal quem sou eu? Que protagonista tenho? Todavia, sempre que repenso nesta viagem, penso porque razão, eu que desde sempre fui apelida de coisas como “reguila” ou “respondona”, me calei tantas vezes neste país? Evitei confrontos, engoli em seco e encolhi os ombros. Raios, queria poder voltar, só para refazer tudo de novo!

 

 

 

 

 

Mais fotos AQUI.

 

Já há uns bons meses que tinha a “Amiga Genial” de Elena Ferrante na minha lista de livros para comprar. No entanto, queria lê-lo em português, a pensar nas especificidades da língua, porque o original tem muito em dialecto e na qualidade das portuguesas. Ora, eu vivo na Alemanha, onde escasseiam as livrarias ou opções de livros em português.

Quando nas férias fui a Portugal, ainda me lembrei da coisa, mas não havia. Sinceramente, moeu-me, mas também não achei nada assim tão estranho.

Quando há umas duas semanas, vi o livro numa livraria em Hamburgo (em inglês) e aborrecida que estava com a minha leitura da altura, pensei “que se dane, leio em inglês”. E raios, que bom!

 

O livro está bem escrito, mas sobretudo é envolvente. Queremos mesmo saber mais sobre aquelas pessoas, que em poucos capítulos deixam de ser personagens, para serem pessoas e vidas que queremos acompanhar. Ficamos felizes se estão felizes e tal como os amigos que fazem asneiras, dá-nos vontade de as abanar quando tal acontece. Mas avancemos, até porque de crítica literária tenho pouco. Do primeiro, passei ao segundo e agora estou órfã, enquanto espero o terceiro no correio - dessa vez, comprei o quarto também.

 

O que eu ainda não entendi é que febre é esta? De repente, só ouço falar da Elena Ferrante! Do nada, toda a gente está louca e a falar dos livros! Todos o estão a ler: no trabalho e amigos em outros países, de outros idiomas! Quem vai mais à frente, nem se atreve a contar o que está a acontecer aos outros! Mesmo ao almoço e com colegas de trabalho, fala-se não de livros, mas dos livros de Ferrante! Mandamos mensagens, porque descobrimos que a pessoa X está também a ler e, tal como nós, conhece a Elena e a Lina. Há artigos nos jornais a falar da escritora, que embora interessem pouco ou nada, só alimentam esta coisa do "que raio de loucura é esta"?  

E, sim, os livros são (muito) bons, mas sejamos honestos, não acabaram de ser publicados agora. Por exemplo, o primeiro livro foi escrito há cinco anos. Expliquem-me, que loucura é esta? Uma febre ou andamos todos em sintonia?

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