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Maria vai com todos

Estórias. Histórias. Pessoas. Sítios. Viagens.

Maria vai com todos

Estórias. Histórias. Pessoas. Sítios. Viagens.

16 Abr, 2016

Cantinho da Leitura

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Durante a minha viagem à Indonésia, li o livro de "Indonesia etc - Exploring the Improbable Nation" da inglesa Elizabeth Pisani.
A autora viveu durante vários anos na Indonésia e trabalhou para a Reuters, como jornalista e mais tarde no Ministério da Saúde. Ela refere-se à Indonésia, como o seu "bad boyfriend". Aquele namorado(a) que temos, gostamos muito, muito; apesar de lhe reconhecemos 377 mil imperfeições, mas que ao mesmo tempo estamos desesperados para que os nossos amigos gostem dele(a).
Para tentar explicar o inexplicável (corrupção, superstições, poluição, os contrastes económicos do país, etc.) ela viajou durante um ano pelo país - falamos da Indonésia, ou seja, um país como mais de 17 milhas, das quais, 6 mil são habitadas.

Contando a sua jornada e de forma leve e, por vezes, engraçada Elizabeth Pisani consegue falar dos vários aspectos da vida do país: cultura, religião, economia, o colonialismo holandês, turismo, educação, indústria, História, etc. Apesar de por vezes fazer algumas considerações, com as quais podemos (ou não) concordar, por norma é bastante correcta, limitando-se a enumerar factos e a contar historias/episódios. E isso é bom, porque não julga, não cria pré-conceitos no leitor.
Tudo isto contribui para que tenha conseguido criar um bom livro de viagens, que se lê com gosto e, mais importante, que nos anima a viajar pelo país. Eu ADORA viajar, ADORO ler, mas literatura de viagens não está no meu topo de preferências. Aborrecem-me as descrições, as interpretações tão pessoas e muitas vezes os juízos de valor que são feitos. Obviamente que há livros muito bons, atenção! Este é um deles!

 


Sempre que um amigo meu vai de viajar para a Tailândia, dou por mim a recomendar o mesmo sítio: o Elephant Nature Park, perto de Chiang Mai.
Este parque é como um santuário de elefantes, que são muitas vezes resgatados (leia-se comprados) aos donos, para que os elefantes possam viver em boas condições.

Quer na Tailândia, quer noutros países, os "passeios de elefante" são bastante comuns. Vários turistas desembolsam um bons euros para passear em cima do bicho.
O problema, sinceramente, não é a "carga humana" - já viram um elefante? Se um cavalo consegue transportar sem problema um ser humano, imaginem um elefante. Somos uma pluma. Além disso, no meio de florestas e selvas é perfeitamente compreensível que se usem elefantes para transportar cargas, bens agrícolas, etc. Sim, o ideal seria que fossem animais selvagens e livres, mas isso também seria o ideal para os cavalos e até mesmo para os gatos. Nenhum animal nasce ou foi concebido para ser "doméstico", isso sempre foi tarefa humana. Avante.
Com os elefantes, a principal questão das organizações que estão no terreno é a forma como são domesticados. As organizações entendem o quão vital é o uso dos elefantes (e outros animais) na economia e sustentabilidade de muitos agricultores e construtores - e, claro, agentes turísticos. A pensar nisso, canalizam esforços para que a dita "domesticação" seja feita de forma correcta e sem violência.

Semanas depois do nascimento, os bebés elefantes são retirados das mães e metidos em jaulas de bambu. Durante semanas e meses, toda a aldeia agride, bate, espanca, chicoteia, etc. o bebé elefante. Tudo isto ainda é mais cruel ainda quando se conhece a natureza de um elefante. Falamos de animais extremamente protectores e sensíveis, que vivem em família e, mais, são animais que choram, o que, do ponto de vista humano, torna tudo ainda mais emocional. Para a mãe do elefantes, isto é também bastante traumático e muitas não lidam bem quando são separadas das crias.
Com este ritual, os praticantes acreditam que estão a tirar os "espíritos maus" do elefante, como se toda aquela violência não fosse sentida pelo elefante bebé, mas sim, pelos seres malignos que nele habitam. Acreditam que retirados os espíritos, o elefante fica dócil. Tornando-se, assim, domesticável.
Na verdade, tornam-se animais nervosos, constantemente agitados e a viver em stress. São animais que nunca estão parados e muitos acabam por morrer antes do previsto. 

 

No Elephant Nature Park há elefantes que foram resgatados de toda a Tailândia. Cada um tem a sua história. Ficam aqui algumas.

Uma das coisas que nos dizem no parque é, "olhos! Cuidado por onde andam, pois há muitos elefantes cegos". Oi? Pois bem, muitos donos para os subjugar, para os fazer andar mais rapidamente, etc. usam umas pequenas foices, bem bicudas, com que lhes vão batendo. A pele de um elefante é bastante dura, daí a foice ser tão afiada. Para o castigo ser mais efectivo, usam a foice para agredir os olhos do elefante muitos acabam cegos.

Também havia elefantes coxos, devido às bombas que (ainda) existem, sobretudo na fronteira com a Birmânia e do Camboja.

Havia uma elefante enorme, que de um lado era como se tivesse um corpo gigantesco a sair. Juro que pensei que seria um tumor ou algo assim, mas a história era pior. A elefante tinha ficado grávida e uma gestação elefante pode ir até aos 22 meses. Na recta final, as pobres mães pouco se mexem, afinal, há um bicho que pode chegar aos 100 quilos dentro delas. O dono tinha pressa que o animal parisse, pois precisava dela para trabalhar e... forçou o parto. Resultado? O bebé morreu e a mãe ficou com aquele "defeito" para sempre, passando também a ser inútil (para ele).

 

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Hora do banho.

 

A fundadora do parque é uma tailandesa chamada Lek Chailert. O pai e toda a família eram caçadores de elefantes e ela optou por dedicar a sua vida a salvá-los. O parque vive de doações e do dinheiro das visitas. Há também voluntários que podem ficar durante dias e semanas (pagando alojamento, obviamente) e alguns eram estudantes de veterinária.  Além dos elefantes, o parque dedica-se também a salvar cães, que na Tailândia não são propriamente visto como os "melhores amigos" do homem e, por norma, são bastante destratados.

Esta foi possivelmente a actividade mais cara que fiz na minha viagem à Tailândia. Se não me engano, paguei cerca de 50 euros por um dia, mas vale totalmente a pena. Fiquei com pena de não ter feito mais dias.O sítio é lindo, verde, cheio de montanhas e com um rio. Os elefantes andam livres, na companhia das suas novas famílias (existem bebés) e é bom quando sabemos que estamos a pagar para um local que trata bem e respeita os animais, sem truques, chicotes ou sem forçar situações. O dinheiro é também usado para resgatar outros animais. Sim, porque os donos, mesmo com os animais cegos ou coxos, só os deixam ir, depois de receber uma boa quantia. 

Se um dia vão à Tailândia, não deixem de ir aqui! Vale MESMO a pena! 

 

Diz o Expresso, que nunca houve tantos portugueses emigrados, o "maior número de sempre" escrevem. Olha lá a novidade, mas o artigo tem números, o que é bom!

Diz que são mais de 2,3 milhões de Portugueses que estão fora.

Diz o artigo, que o Reino Unido é o principal destino. "No total, cerca de 175 mil portugueses residem agora naquele país. O fluxo é composto, sobretudo, por jovens adultos — um terço tem entre 25 e 34 anos. Muitos são qualificados." Só quase 5 mil são enfermeiros. Bélgica e França continuam a ser opções, sendo que é em França e no Luxemburgo que estão os emigrantes com menos qualificações. Curioso é ver a Noruega na lista. Segundo o Expresso, "a Noruega transformou-se num dos principais destinos de emigração dos diplomados portugueses. É, aliás, neste país que reside a comunidade portuguesa com maiores habilitações em todo o mundo."

Parece que desde os anos 60/70, que Portugal não via uma coisa assim. Note-se, nos anos 60/70 havia uma guerra colonial, à qual o sexo masculino dificilmente conseguia escapar. Nos anos 60/70 havia também um senhor, que mandava naquilo tudo e punha e dispunha ao seu belo prazer. Falamos do senhor Salazar que acreditava, que bom é ser pobrezinho e humilde e que saber ler e escrever, já era mais do que suficiente. Portugal era um país de agricultores e onde mulheres pariam filhos, como quem contrata mão-de-obra.

O artigo refere ainda que muitos destes emigrantes não tencionam voltar, que para isso teria que haver por parte de Portugal uma capacidade para oferecer melhores trabalhos, condições laborais e salários. E já agora, acrescento, melhor qualidade de vida com leis e incentivos que permitam conciliar trabalho e família. Quando isto acontecer, avisem-me que eu volto. Até lá, mantenho o plano de voltar depois de estar reformada.

Cheguei da Indonésia e qual boa filha. telefonei à minha mãe. Foi mais ou menos isto:

Eu - Estou. mãe?

Mãe - Sim, filha! [A minha mãe atende sempre assim as minhas chamadas. Um clássico!] Já chegaste?
Eu - Já. Cheguei à pouco... bla bla bla... o voo... whiskas saquetas onde fomos e por onde andamos... ui ui e o tempo? [Esse esterno tópico]... mimimimi só há arroz e "siiiiiiiiiiiii", tirei muitas fotografias e  mais o diabo a sete!
Mãe - E amanhã vais trabalhar?
Eu - Oh, vou! Não me apetece nada! [Voz dramática e carregada de mimo] Estou fartinha de trabalhar!
Mãe - Francamente! Com essa idade? Ainda agora vieste de férias!
Eu - Se eu pudesse não trabalhava!
[E lá começa o discurso, porque o trabalho é bom. O trabalho dignifica e tem mais 76 mil vantagens. Trabalhar é importante. O brio profissional. fazer dinheiro e a carreira. Onde já se viu não fazer nada? Ai, ai, ai, mau, mau, mau]
Eu - Tu falas, falas, mas estás cheia de vontade de te reformar. Ainda no outro dia dizias, que se pudesses...
Mãe - Isso é só às vezes! Outras, só quero trabalhar!
 
NOTA: A minha mãe sabe precisamente quantos dias, meses e anos lhe faltam para a reforma.

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