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Maria vai com todos

Estórias. Histórias. Pessoas. Sítios. Viagens.

Maria vai com todos

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Escritores com os quais (eu) embirro

29.04.16

Note-se, são escritores com os quais EU embirro. Isto não faz deles gente com menos ou mais mérito, melhores ou piores. É apenas a MINHA opinião, o meu gosto, o meu parecer, ok?

 

Paulo Coelho

Não há livraria que não tenha um livro dele! E não falo só de Portugal, encontro livros dele em todo o lado: na Índia, no Peru,... raios! Lembre-me de ler aos 13 anos a "Verónica decide morrer", mais tarde a "Brida" e era, vá, aceitável. Ainda lhe dei uma terceira oportunidade, com o "Rio Piedra" e depois, deixei-o de lado. Não deu mais! Tudo cliché, banal, tudo treta de auto-ajuda que já se leu, ouviu, viu em 374 mil lugares mais. Não acrescenta nada, não coça, não toca. Não entendo onde está a genialidade, muito menos a originalidade, que justifiquem milhões de livros vendidos ou o êxito mundial.

Quando dava aulas de Português, tinha sempre alunos que liam Paulo Coelho. Cada vez que ouvia Paulo, começava a revirar os olhos... parava logo, afinal "gostos não se discutem", "melhor ler que não ler", "cada um sabe de si" e, olha, "sempre é um autor de língua portuguesa". Ainda assim, admito, dá-me comichões.

 

 

Ernest Hemingway

Eu tentei. Eu juro que tentei! Tentei vezes sem conta "O Velho e o Amor", tentei "O Sol Nasce Sempre" e até "Por Quem os Sinos Dobram", mas não consigo! Chego ali à terceira página e dali não passo. E, sinceramente, nem entendo porquê. Sinto até bastante simpatia pelo Hemingway, sobretudo devido à presença dele nas Brigadas Internacionais, durante a Guerra Civil Espanhola e sempre me comoveu a história do suicidio dele - com a mesma arma com que o pai se matou. Presentinho da mãe (mulherzinha macabra,  meu ver)! Talvez daqui a uns anos a gente se entenda, para já, nada de Hemingway.

 

 

Nicholas Sparks

Este eu assumo: é desses que gosto de não gostar. História de amor alimentadas a pipocas não são a minha coisa. Admito que possa estar a ser snob, mas como disse em cima, são coisas com as quais EU embirro. São birras minhas. O Sparks é bom no género dele, faz as pessoas lerem (querem melhor do que isso, num mundo onde quase ninguém lê?) e ainda lucra (e bem). Se calhar é só inveja (minha).

 

 

Erika Leonard James

Juro que tiver de ir ao Google ver como é que ela se chamava. Eu li, meio na diagonal o livro das 50 Sombras da Erika e achei mau, muito mau, mas OK. É um estilo e, lá está, pôs meio mundo a ler e outros quantos a pinar mais e melhor - beza-a-deus por isso (eu cá acredito que gente que pina bem, é mais feliz!). O livro é mau. É mal escrito e a história da Cinderela moderna, que só pina e sujeita-se, porque "ama" dá-me cabo dos nervos! Ora então, a moça não pode pinar por verdadeiro gosto e porque gosta? Só se submete... por amor?

Adiante, aé porque na verdade, eu comecei a ficar-lhe com alergias depois de ler uma entrevista dela. Fiquei louca ao ver como a autora era pretensiosa. Ela achava mesmo que sim, sim senhora, era uma grande escritora a merecer um Nobel. Raios. Na altura do filme, havia também muito zumzum por causa dela, pelas suas exigências e como dificultava a vida aos produtores e realizadores, tendo sempre algo a dizer. Ok, podem dizer, o livro é dela, a história é dela. Obviamente que tem todo o direito a meter o bedelho, mas convenhamos, ela escreveu as sombras do Grey, não escreveu "Hamlet", nem o "Ensaio da Cegueira", nem os "Cem Anos de Solidão"! Assim que, Erika, calma amiga!

 

 

José Rodrigues dos Santos

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Confesso, que não sou muito admiradora do estilo do investigar-mais-esperto-que-toda-a-gente-e-que-descobre-tudo-e-todos - prova disso, é que do Jaes Bond, ao Sherlock não sou leitora de nenhum. Mas o José Rodrigues dos Santos tem um estilo de escrita (oh-pra-mim-que-sei-muito) que me chateia. Ele sabe. Ele investiga. Tem bastante mérito, até porque ao contrário de Dan Brown, ele não inventa. 

Sinceramente, acho que o principal problema é que é difícil dissociar o autor do personagem. O personagem principal pode ser o cão Bobi ou o calceteiro Ramiro, que na nossa cabeça, continuamos sempre a escutar o José Rodrigues dos Santos, qual professor de História cinzentão, a discursar sem fim.
Mas lá está, milhões de livros, direitos comprados, traduções em 20 (acho) idiomas. Ok, ele põe gente a ler. E isso é bom - muito bom! Mas caramba, também não faz dele um Lobo Antunes, nem um Saramago - por mais que o José Rodrigues dos Santos ache que sim!

 

E vocês, com que escritores embirram?

O meu primeiro Primeiro de Maio em Berlim

29.04.16

Ich bin ein Berliner

 

Domingo é o Primeiro de Maio - uhuhuhuh aposto que ninguém sabia disto. Mais: é o meu primeiro Primeiro de Maio em Berlim.

Ainda antes de pensar que poderia alguma vez viver aqui, já ouvia falar do 1 de Maio em Berlim. Era quase como o Queen's Day (agora King - ou não?) na Holanda, tipo uma Queima (de um dia) com toque Berliner! Como em todo o mundo, celebra-se também aqui o Dia do Trabalhador. Aqui, com mais alegria, com concertos, festa e comida e bebida na rua, em particular em Kreuzberg, o bairro turco e onde todos querem viver em Berlim. No dia 1 de Maio é também "permitido" aos neonazis, fascistas desta terra sair à rua.

Já houve, noutros anos, batatada, carros queimados e outros mimos que tais. É, dizem, o dia mais ocupado da polícia de Berlim, que escolta, separa e acompanha todos estes protestos.

No domingo será o meu primeiro Primeiro de Maio em Berlim e estou em pulgas para a festa! Custa-me imaginar tanto entusiasmo pela rua, regados com tanto álcool e dança e música... na Alemanha. Ok, que estamos em Berlim, mas continuamos na Alemanha. Inicialmente o plano era um barbacue, mas o sacana do tempo não parece querer contribuir. Assim sendo, brunch reforçado e ala para a festa!

Obviamente que dispenso a parte violenta, mas faltar ao Primeiro de Maio, é como viver em Lisboa e não ir ao Santo António.

Ich bin ein Berliner

27.04.16

 

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Um dos momentos mais divertidos do meu dia, é pela manhã, quando chega o autocarro.

Junto à paragem estou eu e uns quantos alemães, à espera do dito cujo. Todos dispersos, uns com o telemóvel, outros a lerem ou a olhar para o nenhum, ...!

De repente (música de suspense), avista-se o autocarro (o volume aumenta) e cada um, de forma desinteressada e dissimulada,vai-se chegando, até que o autocarro se aproxima cada vez mais (música frenética) e, num piscar de olhos, lá estão eles. À porta. Prontos para entrar. Firmes. Não há idoso, mulher com carrinho, nem sequer preocupação com quem chegou primeiro, que os detenha!
Esta modalidade alemã, de ver quem chega primeiro é deveras divertida.

Aliás, tenho vindo a constatar, que não é só o autocarro. É um efeito que as filas provocam nos alemães.
Por exemplo, no supermercado, estou eu a aproximar-me da caixa e logo sinto uns passos apressados atrás de mim. Do nada, zás, lá estão ele/ela/eles/elas, a passar-me à frente!

E, sim, eu divirto-me com isto. Melhor ainda, só quando deixo alguém passar-me à frente. É a única vez que ganho neste jogo.

 


NOTA: este texto é meramente divertido e para rir, pois aqui a autora gosta muito dos alemães e considera as filas em Berlim um programa de entretenimento ao mais alto nível.

Sábado à noite em Berlim

27.04.16

Ich bin ein Berliner

 

Concerto de hip hop. O grupo é francês (e bom), pelo meio muitos agradecimentos em francês e em inglês. A vocalista está claramente surpreendida com tanta euforia e pergunta se há franceses na assistência.

E estamos em Berlim, claro que há.
Pergunta depois se há gente de outros países.
E estamos em Berlim, claro que há.
Inglaterra.
Canadá.
Nova Zelândia.
Marrocos.
Síria.
Comigo estavam italianos e indianos.

Caramba, como eu gosto de Berlim.

Cantinho da Leitura

22.04.16

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O Quarto de Jack | Emma Donoghue 


Sinceramente, comprei o livro há anos. Comecei a ler, deixei. O narrador é uma criança, ou seja, o livro é uma visão infantil da história e, achei, o inicio pouco atractivo, com toda a descrição do quarto.
Depois de todo o zumzum à volta do filme e decido à falta de livros, lá peguei eu no livro. A parte pior ficou para trás - toda a descrição infantil e chegamos à história pura e dura. Obviamente, que o olhar continua a ser o de uma criança, mas houve um desenvolvimento da história. A coisa andou.
Gostei mais. Tem partes fofinhas (já vos disse que o narrador é um puto de cinco anos?), o que tendo em conta todo o horror (uma jovem mulher que vive num quarto aprisionada, onde é tratada como escrava sexual e pelo meio tem um filho) é algo novo. Diferente, vá!

E Se fosse Consigo? Racismo em Portugal

21.04.16

 

Só ontem à noite é que vi a primeira reportagem do programa "E se fosse consigo?" da Sic, cujo tema era o racismo em Portugal. Adorei. Fazem tanta, mas tanta falta programas assim. Reportagens que nos obriguem a reflectir e que nos incitem a agir. É serviço público no seu mais puro sentido.

Sempre que o tema vinha à baila, com a família e amigos, eu sempre defendi "sim, em Portugal há racismo". OK, Portugal pode não ter casos extremos como os EUA, onde o número de negros assassinados pela polícia, supera (e muito) o dos brancos; da Itália, onde os próprios deputados brancos insultam deputados negros de "macacos" e outros adjectivos, etc., etc., etc. Mas façamos uma reflexão profunda.

Quantos de nós tivemos colegas negros na escola? Ou ciganos? Ou Indianos? Eu, assim de repente, conto um cigano apenas.

Desde 1974, quantos políticos negros?

Quantos presidentes, directores ou pessoas em carga de chefia?

Jornalistas? Apresentadores de TV?

Mesmo atores negros, aparecem apenas em telenovelas ou ficção histórica... a fazer de escravos, obviamente. E quando são histórias actuais, já se sabe que a "história" daquele personagem será a exposição ao racismo e, com sorte, a superação do racismo. Quando a minha mãe me disse que, por fim, ia haver uma telenovela com uma protagonista negra, acrescentou logo: "mas passa-se em Angola e vão falar de racismo". A sério? Não teremos todos nós amigos, vizinhos, colegas de trabalhos negros ou de outras raças e etnias? A ficção não devria ser mais... real?

Também na música sempre houve separação. Por isso, considero os Buraka Som Sistema tão, mas tão importantes em Portugal. Foi o começo de ver brancos e negros no mesmo espaço, a dançar a mesma música e a aceitação do kuduro e de algo "africano", como bom, com qualidade. Algo artístico.  Recordo-me tão bem de nos tempos da universidade ir a um bar/discoteca de música africana com amigos e não haver mais nenhum branco por lá metido, sem ser eu ou alguém do meu grupo de amigos.

O desporto talvez seja a área mais democrática. Afinal, olha-se mais ao talento, do que à cor da pele. Todavia, nem o desporto é indiferente à questão racial, como todos sabemos. Basta recordar episódios como insultos, bananas e, claro, as claques no seu melhor! Haver em Portugal, uma estátua ao Eusébio, não torna o país não racista.

Recordo-me que quando a actual Ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, tomou posse, isso foi notícia. Na reportagem da SIC falavam disso e remetiam para ela uma declaração em que a ministra dizia que em Portugal, sim, havia racismo, mas estava institucionalizada a ideia de que não. É que em Portugal, continuamos a olhar para o lado, com preconceitos disfarçados de "Eu não sou racista/homofóbico/xenófobo/etc., pois até tenho um amigo que..., mas..." E o problema vem depois do "mas". Mas "na minha família não", mas "para evitar sofrimento, é melhor que os meus filhos não", mas "até compreendo quem...", mas "é preciso ver que Portugal...".

 

Pois, Portugal. Esse país que durante séculos enriqueceu graças ao comércio de pessoas escravas e que até aos anos 70 travava uma guerra colonial. Obviamente, que o tema "racismo" é irrelevante e que "nós", portugueses, nada temos que ver com isso. Por tudo isto, usar o argumento que "Portugal é um país de brancos", daí não vermos mais negros nas mais diversas áreas, é, desculpem, uma treta. Há sim, falta de oportunidade. Amigos meus diziam que nas entrevistas de trabalho era sempre a mesma história: por telefone tudo bem, chegada ao local... "é mesmo Português?" ou "Fala mesmo bem."

 

Quando vi a reportagem da SIC dei por mim, como todos, a pensar: "o que faria eu se escutasse aquelas palavras?". Se fosse há uns anos atrás, sei que iria responder, retaliar. Mas agora... não sei se é porque estou a ficar velha, acomodada e/ou sem paciência para gente burra, mas a verdade é que não sei mesmo se me meteria. Acho até que teria até visto aquilo como um assunto pessoal. O que é errado. Racismo é crime. Tal como a violência doméstica. Devemos todos intervir, chamar a polícia até.

No Brasil, onde o racismo é discutido de forma diária, esta criminalização (de vez em quando, pelo menos) é levada de forma bem séria. Recordo-me de uma historia de uma adepta que insultou o jogador da equipa adversário, com comentários racistas. Foi filmada e criminalizada. E, claro, no século XXI isso significa também redes sociais. O caso ganhou proporções mediáticas, com a adepta a chorar baba e ranho na TV pública, a pedir perdão e a usar o argumento como o "calor e a paixão futebolística" como argumento.

E é argumento? Não. Não é, nem pode ser. Não pode ser mesmo. E vamos ser honestos e conscientes. Quantas vezes dissemos "branco de merda?" ou "corre, branco" ou "vai-te foder, branco do caralho?". Alguma vez ouviram isto? Obviamente que o racismo é um pau de dois bicos, de muitos bicos. De certeza que há brancos que já sofreram racismo. No entanto, tendo em conta a dimensão histórica, social, cultural, económica, entre outras, sem dúvida, que ainda é contra as pessoas negras que ele mais se manifesta. Milhões de pessoas foram escravizadas e ainda no século XX, a segregação racial era mesmo "uma coisa". Ainda hoje é. Uma mãe com um filho negro, sabe que o seu filho tem mais problemas de ser perseguido, agredido e até assassinado pela polícia do que uma mãe de um filho branco. Imaginem, agora, ter que viver com essa angústia.

 

"E se fosse consigo" fez ainda o velho exercício, da boneca branca e da negra, fazendo perguntas a várias crianças sobre "qual a boneca bonita?" e "qual a boneca má?". Ouvir crianças negras a dizer que não gostam da própria cor e que se acham feias pela cor que têm, foi avassalador para mim. Claramente estamos a fazer muita coisa mal. Precisamos de mais bonecas de todas as cores, de mais cantoras de todas as cores, de mais atores de todas as cores, de mais publicidades de todas as cores... precisamos definitivamente de um mundo com muitas mais cores.

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