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Maria vai com todos

Estórias. Histórias. Pessoas. Sítios. Viagens.

Maria vai com todos

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Histórias Inventadas

31.03.16

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Esta sou eu! Esta fotografia foi tirada no dia 3 de Junho, quando o meu irmão Tiago terminou a licenciatura em Direito. Pode não parecer, mas esse foi um dos momentos mais tristes da minha vida. Naquele dia, naquele momento e durante a fotografia ("mais para a esquerda", "agora levante o queixo", "um sorrisinho, doutor", "oh menina, endireite as costas!"...) eu só conseguia pensar em como o mundo era injusto e que má pessoa eu era.
Anos antes do Tiago entrar na universidade, eu chorei, implorei, gritei e ajoelhei-me, para que o meu pai me deixasse ir à universidade. Ele nunca deixou, disse-me que era hora era de "pensar num bom casamento". O meu pai nunca me deixou ir à escola, eu aprendi em casa a ler e a escrever com a minha mãe. Tive uma professora de Francês e com a minha tia Elisa, aprendi piano. As minhas primas iam à escola, mas eu nunca fui.
Quando o meu irmão mais velho, o José entrou na universidade, com ele, eu descobri um mundo novo. O meu irmão dava-me, às escondidas, livros para ler e muitas vezes, eu ficava com ele, enquanto ele estudava. Por vezes, até o ajudava com os trabalhos. Foi aí que decidi que queria ser médica também.
Do dia em que comuniquei a decisão ao pai, só me consigo lembrar das lágrimas da mãe. O pai ficou furioso - "o que esperavas?" perguntou a mãe! O pai gritava, falava em maridos. Disse que médicas mulheres era inúteis. Mais, disse que eu jamais conseguiria, que não podia entender os livros, os conceitos. Eud disse-lhe que sim, que seria capaz, que ajudava muitas vezes o José. Aí, ele ficou ainda mais furioso e acusou-me de mentir. Nunca o vi tão zangado. Nos anos seguintes, voltei a fazer-lhe o mesmo pedido. Falei-lhe de outras mulheres que estudavam, mas ele só respondia com doses de desprezo. Troquei até Medicina por Letras, pois a Tia Elisa dizia ser mais apropriado, mas em vão. Quanto mais ele dizia "não" á universidade, mais eu era categórica a dizer que "não" a futuros maridos.
Quando o meu irmão Tiago entrou na universidade, o meu pai ficou cheio de orgulho. Chamou toda a família e amigos e brindou com vinho do Porto. Na verdade, nunca ninguém esperou nada do Tiago e não foi surpresa para ninguém, quando demorou oito anos para acabar o curso! Uma vez, ouvi a tia Elisa dizer ao meu pais: "a tua filha já teria acabado o curso". O pai levantou-se e ele e a tia estiveram uma semana sem se falarem. Não me entendam mal, eu gosto do meu irmão. É o mais novo! Mas sempre que olho para ele vejo tudo o que me foi negado. Não sei se algum dia vou superar isto. Serei eu má pessoa?

 

 

*Nota: as histórias são 100% inventadas e pura ficção. Mas depois de ver estas fotografias,  foi como se muitas dessas vidas tivessem histórias por contar.

Os transportes em Berlim

28.03.16

Ich bin ein Berliner

 

Quem vem viver na Alemanha, assim que chega aprende duas coisas:
1. Não fazer downloads - sim, aqui as multas chegam a casa. Mesmo com o streaming é preciso ter muito cuidadinho. E, note-se, por multas falo de 500 e mais euros.

2. Não usar transportes públicos sem pagar.


Em Berlim, entra-se e sai-se do metro e do autocarro, sem que seja preciso passar por qualquer tipo de cancela. Mesmo no autocarro, em teoria, deve-se mostrar o bilhete, mas isso nem sempre acontece a maioria dos motoristas, nem quer saber!

A verdade é que desde que vivo em Berlim, já passaram mais vezes por mim revisores do que em todos os anos da minha vida! Os senhores do BVG, sistema de transportes públicos de Berlim, não anda fardado, nem identificado. Do nada, lá se levantam eles, sacam da maquineta e alaaaaaa, vistoria a todos. Quem não tem bilhete, fica sinalizado na hora e saem na companhia dos revisores na estação seguinte. Já vi isto a acontecer e não há guinchos, berros, nem protestos. Tudo feito na máxima descrição e tranquilidade. Já lá fora, passa-se a multa, mostra-se uma identificação e ou se paga na hora ou se paga online ou num balcão BVG em duas semanas. 60 euros. Sim, a multa é de 60 euros!

 

Também eu já fui multada! Eua qui tenho passe e os dias são flexíveis, ou seja, não vão do dia 1 ao fim do mês. Deixei passar, esqueci-me e pau, multa.

Aqui há tolerância zero.
Tem bilhete mas não validou? Multa.
Tem o bilhete, mas deixou o passe em casa? Multa.
Perdeu o bilhete pelo caminho? Multa.
Fez o sentido inverso com o mesmo bilhete? Multa.
Passam 2h05 desde que picou o bilhete (o máximo são duas horas)? Multa.
E não vale a pena reclamar depois, mostrar provas, etc. Flexibilidade e tolerância zero. E quem não paga a tempo, paga mais tarde e com juros! Não se brinca com a BVG, até porque quem acumula três multas sem pagar, vai mesmo a tribunal! Já me disseram que a coisa pode acabar em tribunal, mas isso já me parece demasiado!

Estima-se que por ano, esta malta faça mais de 9 milhões só em multas. Quanto gastam em revisores, eu não sei.

 

Quanto à qualidade do serviço? Discutível, a pontualidade dos autocarros é zero, à noite, então... O sistema é aind a papel, nada modernizado, nem eletrónico, com bilhetes do século I  AC e nas estações de metro há falta de mapas. São também poucas as máquinas e as opções de viagens e, para Berlim, 2,70 euros por viagem é francamente caro. Mas sim, a linha é abrangente, passamos todos bem sem carro. O BVG é possivelmente daquelas coisas que amamos odiar. Até, porque é o local por metro quadrado com mais maluquinhos em Berlim e depois disto, até lhes passei a achar piada!

 

Crianças na Alemanha

23.03.16

Ich bin ein Berliner

Uma das coisas que mais me tem fascinado aqui em Berlim é a relação que os pais têm com os filhos. As crianças aqui parecem mais livres, mais autónomas, mais capazes. Aqui é comum ver crianças de dois anos a andar em autênticas mini-bicicletas (sem pedais e sem rodinhas). Aos 6 anos (ou antes) já muitos acompanham os pais de bicicleta e vão de bicicleta sozinhos. Se apanha o metro e coincide com os horários de escola, é comum ver crianças de 0/10 anos a viajarem sozinhas ou na companhia de outros miúdos, sem a supervisão de um adulto.

Nos parques, mercados, etc. é comum ver as crianças a brincarem, sem adultos em cima delas. Os pais estão lá, obviamente, e estão de olhos, mas não estão em cima e dão-lhes espaços para brincar e respirar. Se um miúdo cai, o adulto não vai a correr. Se o puto chora, os pais não lhes dão o chocolate para a mão. Se o fedelho faz birra, não ganha colo. É muito comum ver os pais aqui a baixarem-se a falarem com os filhos, baixo e ao mesmo nível que eles.

E, por favor, não me venham com a história de que são frios, insensíveis ou sem criatividade. Há carinho, de uma forma bastante clara e demonstrada, escutam-se gargalhadas e as crianças riem. Nenhuma me parece triste, nem traumatizada. Também não sei se são mais felizes, até porque isso não se mede, mas mais do que nada, acho bonita esta ideia de deixa-los tão livres.

Mesmo eu, dou por mim por vezes a pensar "e se vem um carro?" e "se há um acidente?". Na Alemanha há um sistema e as pessoas esperam que a coisa funcione. Não é suposto os carros irem à máxima velocidade ou ciclistas saírem das ciclovias (nem carros irem na ciclovia), é com força e no hábito destas convicções, que os alemães se sentem confiantes com as crianças. Obviamente que "shit happens", mas isso está muito mais enraizado em mim cultural e socialmente, do que certamente num alemães. Se lhes dissermos isso, a resposta será "não, não acontece" e alguns poderão debitar mil estatísticas, onde a apenas um em 7823723 aconteceu. A minha tendência, enquanto portuguesa, é agarrar-me a esse um. A de um alemão não.

Em Madrid, sempre disse que queria ser uma velha madrilena e do bairro de Salamanca - e ainda quero.
Em Berlim, dou por mim a pensar, que quero ser uma mãe alemã.

Portugal Velhinho

16.03.16

"Fashion in Portugal", 1962. "Coitada, esta deve-se achar!"

 

Ups!

Ponta Delgada, anos 50. O senhor da fotografia não pode caminhar.

 

Construção da Ponte 25 de Abril. Aliás, Ponte Salazar.

 

VIPs nacionais.

 

Trás-os-Montes. Profissionalismo puro.

 

A minha favorita, sobretudo por causa da legenda "Portuguese spirit in its maximum, socializing outside during a flood, Coimbra - 1960"

 

Refugiados judeus, 1941 - e a prova de que este Mundo não aprende nada!

 

1936 - e a prova, de que afinal, havia mesmo muitos chapéus!

 

1917, a caminho de Flandres ou "dá-cá-beijinho"

 

Douro (anos 50 ou 60 - ou no ano passado)

 

Feira da Ladra, 1966 (ou Feira da Ladra, no domingo passado)

 

As modas em 1966 e em Cascais - se o Salazar visse isto, caía da cadeira!

 

Alentejo, 1955 (e nem um solinho)

 

Alfama, 1946 ou "tirem-me daqui!"

 

Vai uma pinga?

 

Mulher que é mulher posa para a fotogafiia e mais nada! Já está!

 

"Regresso de militares do Ultramar", 1962 

 

1974, porque o 25 de abril não foram só cravos!

 

Xixi e cama

 

Faro, anos 60. Deste Sal faz-se também Portugal

 

Show de bola e fair play! 

 

Setúbal, 1938. Sim, Setúbal. Portugal.

 

Anos 30, quando no Marquês não havia trânsito!

 

1917. Tanta gente, mas só os miúdos é que viram a senhora.

 

"Ai, menina, que tu nem sabes o que 'ma' aconteceu! 'Atão, não é que..."

 

Minho, 1932. Ou brunch em 1932.

 

Olhão, 1940. "São todos meus! Ainda falta aqui o meu mais velho, o António Manuel, que foi fazer um recado ao meu homem!"

 

Filho de Peixe

 

Rossio, 1891. Eram grandes, os pombos na altura.

 

A rotular o Mateus Rosé, 1940 

 

 

Ver mais fotografias AQUI, vale a pena.

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