Eu não gosto de regatear, não gosto mesmo! Não tenho paciência, nunca sei o que é justo pedir e sobretudo odeio, sempre odiei, discutir e falar sobre dinheiro - mandasse eu no mundo e éramos todos ricos|
Uma das coisas que me ficou mais presente em Marraquexe (Marrocos) foi a forma como me fizeram sentir como pessoa que possui dinheiro! Durante o momento da compra e a tentativa de regateio, era vê-los só com elogios e a fazer conversa, porém assim que tinha o dinheiro na mão, a coisa acabava. Os sorrisos cessavam! As caras alegres e expressivas fechavam-se!
Recordo-me que no último dia, tinha eu cerca de cinco euros para gastar! Era tudo o que me restava e andei às voltas pela cidade, pelas ruas e ruelas, entrando em lojas, falando com pessoas, etc. a pensar e a tentar descobrir a melhor forma para os gastar! O assédio era mais que muito, mas para aquele dinheiro eu pensei que lhe tinha de dar um fim justo.
Bebi um sumo de laranja na Jemaa el-Fna e depois voltei a subir ao café com varanda e bebi um chá. Mesmo assim, sobravam-me uns trocos e voltei à praça. Voltei a dizer que não aos encantadores de cobras e aos domadores de macacos e a todas as mulheres que me queriam fazer tatuagens henna. Até que fui abordado por uma mulher, que era na verdade um homem. Um homem vestido de mulher! Ali, ali no coração de Marraquexe, no conservador Marrocos, à luz do dia, a cara meia tapada, mas sem ser escondida.
Disse que sim e lá fui fazer a tatuagem. Mostrei-lhe todo o dinheiro que tinha e ela lá disse que aquilo era pouco, mas eu já não tinha nada mais! Aceitou e começou a fazer a tatuagem no pé, a mais básica e sem cor.
Passados as primeiras linhas circunstâncias do diálogo, de onde és, o que fazer aqui, estás a gostar, fiz-lhe também perguntas, já que se criou alguma cumplicidade entre nós! Ela disse que era de outra cidade, uma aldeia de Marrocos e tinha ido para Marraquexe, porque sempre era uma cidade mais liberal (espanto!), mesmo assim contou que por vezes era agredida (tinha um olho negro ainda!), mas que ali a vida sempre era melhor! O trabalho dela era aquele e por vezes, pedia nas ruas. Apesar de tudo, sempre era melhor do que na aldeia e que ali podia ser o que queria.
Ainda hoje me pergunto se esta história é verdade ou partes dela! Ou se ela simplesmente me contou o que eu queria ouvir! Quando já estava a terminar a tatuagem, foi abordada por uma turista e logo ali, me despachou em três tempos, tornou-se fria e mando-me sentar no chão, enquanto aquilo secava!
Até hoje, só em Marraquexe eu me senti assim. Sentir que sou uma turista tonta, que só serve para dar dinheiro!
Adorei Marraquexe, aquela praça é fantásticas, mas ainda hoje quando penso na cidade, esta é a primeira história que me vem à cabeça!