Falar bem
Se houve coisa que sempre me irritou foi essa coisa do “em Coimbra é que se fala bem”, “bom português é em Lisboa” e coisas que tais. Como se os sotaques não fossem bonitos e sinal de riqueza cultural. Falar bem é fazer boas construções gramaticais e conjugar bem os verbos e afins. Podemos gostar mais ou menos de um sotaque; entender melhor ou pior uma pronúncia, que isso não significa que o falante “fale mal”.
Sendo de Coimbra, ouvi muitas vezes o “em Coimbra é que se fala bem” - pois, sim, nós pessoas que andamos sempre a trocar os "v" pelos "b", com frases lindas como "Bamos ber bacas!". Quando vivi em Lisboa era recorrente escutar “o melhor sotaque é o de Lisboa, pois aqui não há pronuncia” - pois, sim, Amelias Alfacinhas que tanto gostam de dizer “treuze”, “Lesboa” ou o “Menistro"! Mais tarde, quando dei aulas de Português em Madrid, numa escola onde existiam professores de Português do Brasil, de vez em quando lá ouvia um “eles dizem mal” - 80% das vezes eram professores de Português de Portugal a reclamarem dos professores Brasileiros. E esta é uma ideia generalizada (e estúpida) que se estende também aos PALOP, como se o Português de Moçambique ou de Angola fosse inferior - "ah e tal, eu não percebo o que eles dizem", pois, amigos, é reciproco. Comessemos nós mais telenovelas Angolanas como papamos as do Brasil e estaria o caso arrumado!
A língua não é uma coisa morta. Ela é afectada pelo tempo e pelo meio. E isso é bonito. A sua diversidade (fonética e vocabular) deve ser exaltada. Falar bem não é usar palavras de 15 silabas, nem ser capaz de usar frases com palavras como anticonstitucionalmente, ok?